terça-feira, 17 de julho de 2007

Estou no campo, no Canto do Melro, e... o mar aqui tão perto!







Aqui no Canto do Melro , envolta por uma paisagem verdejante, tenho na vizinhança o oceano e a serra . A Serra do Caldeirão, a norte, e a Serra do Monte Figo, a sul. Encaixada no vale que as separa, fica a vila onde nasci. Não foi bem aí,no centro da vila, que eu vi pela primeira vez a luz do mundo que me rodeia. A casa que me acolheu fica quatro quilómetros a norte do centro desta pequena vila do barrocal algarvio. Costumo dizer que sou serrenha , como aqui se costuma chamar a quem nasce na serra e não serrana, termo usado no norte, e também montanheira, por ter nascido no meio rural de que muito me orgulho. O campo e o mar são duas paixões , além de outras, que dão cor à minha vida.

No Canto do Melro, onde neste momento me encontro, as plantas crescem organizadas segundo a distribuição que fui fazendo. Árvores e arbustos rodeiam a casa onde vos escrevo, criando um cenário bucólico, idílico, repousante. À minha direita, os loendros brancos e rosa tapam o muro que me separa da propriedade vizinha. Aí , está uma azinheira secular , junto de uma eira onde já passei momentos inesquecíveis. Uma e outra, dois afectos que criei na infância. À sombra de uma, brincava na outra. Agora, mesmo em frente, tenho um alpendre de buganvílias , também rosa,e, ao lado, as damas da noite, o alecrim e a roseira que a minha mãe plantou. Está sempre florida! Aquelas rosas, cor de salmão, falam! Falam-me!.

O dia está a amanhecer, o sol já galgou os cerros e cobre ,agora, a parte mais alta dos telhados, sopra uma brisa fresca. Há pouco, alguns minutos depois das seis da manhã, abri a porta da cozinha e , num dos vasos de flores, sobre o poço, vi um pirilampo, qual pepita de ouro, a brilhar na noite escura. Só aqui os vejo!

Ouço os galos, um ou outro passarito chilreia, cheira a ervas secas, a campo, a terra. Este cheiro, que me é familiar, lembra-me que estou em casa, no canto que me aconchega, mais do que qualquer outro, à beira da estrada que, serpenteando a serra em trezentas e sessenta e cinco curvas, nos leva aos campos alentejanos de Almodôvar e Castro Verde.

Agora , poucos carros passam apesar da estrada se encontrar em bom estado.O acesso a Lisboa ,faz-se geralmente pelas A22 e A2, mais rápido mas mais monótono. E assim, este canto ficou mais calmo , mais repousante, menos poluído.

Daqui saio, todos os dias para a praia. O oceano, afinal, está tão perto!

Aqui regresso quando a tarde cai, geralmente morna, o sol põe-se , o melro encontra-se comigo e debica as sementes que encontra na relva.

Não abdico deste ambiente a troco de nada. O contacto com a natureza, calmo e remansoso, é um privilégio,cada vez mais raro, que degusto com prazer.







As Amoras



O meu país sabe a amoras bravas

no verão.

Ninguém ignora que não é grande,

nem inteligente, nem elegante o meu país,

mas tem esta voz doce

de quem acorda cedo para cantar nas silvas.

Raramente falei do meu país, talvez

nem goste dele, mas quando um amigo

me traz amoras bravas

os seus muros parecem-me brancos,

reparo que também no meu país o céu é azul.



Eugénio de Andrade




quarta-feira, 4 de julho de 2007

A Amizade Não se Agradece. É uma Conquista! Mútua!




marés de ondas livres

eis - me aqui, teu escravo

encarcerado amor, o meu

ninfa aprisionada

canta sereia, encanta

diva de voz vítrea

como o cristal, derruba a sebe

espantalho, artificial visão

vem, desejo – te,

vamos espraiar,

este desvairado amor

livre de barreiras

vinculos de sal,

maresia, iodo

elos de amor, naturais, puros,

embriagantes espasmos

convulsivos, fulgurantes



poema e foto: poetaeusou