sexta-feira, 28 de março de 2008

Junto ao Mar / Vieira Calado / Obra

Tirada na Marginal de Lagos


Sempre encontrei a plenitude na plenitude junto ao mar.



Talvez ( e talvez seja a palavra imprecisa por excelência/

assim uma irremediável certeza na dúvida certa/

um latejar súbito apressado inquieto coração/

ao impulso da adrenalina/) talvez, dizia,

junto ao mar sinta eu o ruído da terra o mais profundo

confundindo-se com o do mar

e com este o do meu pulsar inquieto coração

que trago debaixo destes olhos de horizontes.



Junto ao mar, talvez ( porque o mar foi- e é-

o princípio das coisas e se prolonga

por subsequente cadência ou consequente inércia)

talvez, dizia,tenha eu o inconsciente lampejo

de omnisciente consciência abarcando o todo

a terra e o mar, e o meu ser de água e pó,

a inconsciente consciência que traz a plenitude

que só encontro plenamente na plenitude junto ao mar.



E ele aí está - mar, ó mar que vens das raízes do sal/

que mantém em equilíbrio o desequilíbrio constante

do meu sangue/ mar onde se acalma o desassossego

dos meus dias inquietos/ mar onde descanso o olhar

olhando olhando apenas a tua imensidade ó mar.



Ou talvez apenas,

talvez

porque eu tenha nascido junto ao mar.





Vieira Calado ( Lagos 88) Como um Relógio de Areia




Biografia

José Vieira Calado nasceu em Lagos e aí estudou bem como em Portimão e Faro onde completou o curso liceal.
Em Lisboa, trabalhou no Instituto Nacional de Estatística e na Caixa Geral de Depósitos. Nesse período, colaborou regularmente no Jornal " A Nossa Terra" de Cascais e no Correio do Ribatejo.
Entre 1967 e 1977 viveu em Inglaterra e , depois, em França onde obteve uma Maîtrise em Estudos Ingleses e Portugueses pela Universidade de Paris III ( Vincennes), sobre Les Relations Anglo-Portugaises Pendant la Monarchie, dirigida pelo professor Paul Gren.
Regressado a Portugal, em 1977, enveredou pelo ensino do Português e do Inglês em Santiago do Cacém, Olhão, Lagos e Vila do Bispo, tendo-se profissionalizado nesta última localidade e aqui terminou também a sua carreira de professor.
Colabora em vários jornais e revistas, páginas literárias,antologias...
No domínio da Astronomia de amadores tem sido animador, feito palestras em centros culturais e escolas. dirigido programas radiofónicos e publicado artigos de divulgação em vários periódicos regionais.
Presentemente, dirige as páginas " O Canto dos Poetas e Astronomia e Mitologia" no Jornal Maré Alta da Costa Vicentina.
Tem uma vasta obra, quer em prosa quer em poesia.
A sua poesia apresenta uma grande simplicidade de expressão, uma profunda emoção e não tem preocupação de rima.
Vive em Lagos.

Escritores Portugueses do Algarve

Para saber mais, consulte o seu blogue http://vieiracalado-poesia.blogspot.com/ . Depois, terá acesso a outros do mesmo autor. Delicie-se com a sua obra!


Com Amizade

Beijos

" Todos nós tivemos um primeiro Amor
e sonhámos dias e dias sem sossego"

Vieira Calado



Sagres

quinta-feira, 27 de março de 2008

Dia Mundial do Teatro


Comemora-se hoje o Dia Mundial do Teatro. Porque tenho um amigo, Fernando Peixoto, que de Teatro sabe como poucos e ama o Teatro como ele deve ser amado , aconselho-vos a que passem pelo seu blogue. Vão gostar, com certeza. E ficarão a saber mais.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Em Todos os Jardins / Dia Mundial da Poesia


Zambujeira do mar ( um dia destes)
Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.


Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.


Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.


Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.


Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 18 de março de 2008

Sidónio - Caricaturista e Escultor

José Sidónio de Almeida nasceu na cidade de Faro a 10 de Julho de 1918 e estudou na Escola Industrial e Comercial Tomás Cabreira. Dotado de alma de artista, tolhiam-no as regras que o programa escolar lhe impunha pelo que acabou por desistir do curso. Dotado de um notável poder criativo, veio a ser um dos notáveis artistas plásticos algarvios do século XX. Começou por fazer desenhos e caricaturas dos seus amigos e de algumas figuras típicas do Algarve.
Caricaturou dezenas de estudantes de Coimbra, onde viveu algum tempo, deixando a sua arte nas paredes de muitas repúblicas.
Em 1948, no Círculo Cultural do Algarve, realizou uma exposição de pinturas e caricaturas que confirmaram o seu talento e a que a crítica não poupou elogios. Foi também um notável ceramista. Na evolução da sua obra,notam-se influências neo-realistas e surrealistas.
Em 1996, depois de ter exposto em muitos pontos do país e do estrangeiro, realizou uma exposição no Teatro Lethes, em Faro, onde estiveram patentes vinte e quatro quadros e duas esculturas, sob o tema: " A Cidade de Faro e gentes da Terra".

São de sua autoria os bustos de Emiliano da Costa, Cândido Guerreiro, Hernâni de Lencastre e Marques da Silva.
A Câmara Municipal de Faro, agraciou-o em 1986 com a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro.
Em Outubro de 1997, apagou-se o romântico, boémio, idealista da Cidade de Faro e da Rua de Santo António.

Glória Maria Marreiros; Quem foi quem?

Galeria Trem ( Vila A -Dentro, em Faro, onde até há pouco esteve umaxposição de Sidónio)

sábado, 15 de março de 2008

15 de Março de 2008


imagem tirada do google

És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante.


Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 13 de março de 2008

Queridos Amigos



Alguns problemas começaram a atingir este blogue. Deixei de ter acesso aos links, à música, a outros elementos adicionados no lado direito da página. Por isso, temporariamente, deixo de postar aqui. Continuo entre vós no irmão, recém-nascido, http://comomaravista.blogspot.com/


Continuo a receber-vos com muito gosto. Basta entrar porque as portas estão abertas.


Amigos, tudo farei para regressar a esta casa. Tenho de fazer uma arrumação de medalhas e afins.

Beijinhossssssss

segunda-feira, 10 de março de 2008

Teresa Rita Lopes

Teresa Rita Lopes nasceu em Faro a 12 e Setembro de 1937, viveu treze anos em Paris (1969/1982) onde foi professora na Université de la Sorbonne Nouvelle e defendeu a tese de doutoramento Fernando Pessoa et le drame symboliste – heritage et création (1975).





É, desde 1979, professora catedrática de literaturas comparadas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, onde orienta um mestrado e o Instituto de Estudos em torno do Modernismo.

Escreve poesia e contos desde sempre, sendo co-directora da revista de poesia de língua portuguesa Orion.

Também desde sempre se tem dedicado ao teatro: tem mais de vinte peças escritas, das quais bastantes representadas em Portugal e no estrangeiro, (algumas premiadas) mas apenas quatro publicadas e uma no prelo.

Consagra-se, desde 1965, à obra de Fernando Pessoa. Dirige, desde 1987, um grupo de investigadores que se dedica particularmente à obra inédita de Pessoa, de que tem publicado numerosos volumes.











Algumas das suas “encenações” de textos de Pessoa publicadas têm sido representadas em Portugal e no estrangeiro (nomeadamente Le Théâtre de L’Être, em Paris e Bruxelas, Le Privilége des Chemins, em Paris, no Festival d’Avignon e em Bruxelas e L’Heure du Diable, em Paris).

Tem obtido vários prémios, no domínio do conto, da poesia, do teatro e do ensaio, nomeadamente, para a poesia, o da Cidade de Lisboa, em 1988, e o prémio Eça de Queirós, em 1997; no domínio do ensaio o prémio Pen Club 1990 (ex-aequo) e o Grande Prémio de ensaio Unicer / Letras e Letras em 1989.




Agora Que Morreste






Agora que morreste Mãe

e só em mim te tenho

sou mais que o meu tamanho

porque sou tu também



Tuas mãos afagam minhas mãos

de quem são estes gestos esta pele?

Nunca me deste irmãos

só contigo reparto o meu farnel



de quotidianos fardos e alegrias

breves e desta brasa em chaga

que é tua ausência nos meus dias

órfãos mas sempre ao colo desta mágoa





de não te ter de te ter sido esquiva

de não te ter nunca aberto as portas

do meu ser de nunca te ter dado vivas

o que hoje já só são carícias mortas





Diário de Uma Ausência ( 27/03/1994)





(in Cicatriz, Editorial Presença, 1996)



Mário Lyster Franco


Nasceu em Faro a 19 de Fevereiro de 1902 e faleceu em Camarate, a 20 de Agosto de 1984.
Foi, durante mais de setenta anos, o diplomata da região, participando em conferências, muitas das quais de sua inteira iniciativa, publicando jornais, livros e revistas, organizando exposições, fomentando e divulgando a cultura algarvia, tanto no Algarve como fora dele.
Criança precoce, aos 8 anos escreveu no jornal «O Algarve» e aos 13 participou no I Congresso Regional Algarvio na Praia da Rocha.
Ainda estudante liceal escreveu, com António do Nascimento, uma revista, em dois actos e seis quadros e, simultaneamente, manteve, no jornal farense «O Heraldo», uma secção de poesia. Pertenceu ao grupo dos poetas futuristas, juntamente com Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa.
A toda esta actividade não foi alheio o ambiente familiar.Mário Lyster Franco era filho do distinto professor do Liceu de Faro e também jornalista e pintor Carlos Lyster Franco.
Matriculado na Faculdade de Direito em Lisboa, Mário Lyster Franco concluiu,em 1927, a sua licenciatura e regressou, então, à província que o viu nascer.
O foro jurídico não era a sua paixão, dedicando-se profundamente ao estudo da história e do património algarvios, publicando muitos trabalhos, ao longo da sua vida, sobre os mais variados assuntos, da arqueologia ao turismo, onde veio a ser pioneiro nos guias turísticos bilingues do Algarve (1944).
Ao longo do curso e pela vida fora, nunca deixou o jornalismo, onde se distinguiu, ainda em Lisboa, como redactor dos jornais «A Pátria», «O Tempo» e «A Palavra».
Foi um dos primeiros jornalistas portugueses a fazer uma reportagem sobre a Guerra Civil de Espanha, a 26 de Julho de 1936, para o «Diário de Notícias», tendo-se deslocado a Sevilha, no avião «Águia Branca».
Para este jornal, foi, também, redactor regional durante mais de trinta anos. Através da imprensa, promoveu homenagens a alguns dos mais notáveis escritores, poetas e historiadores algarvios, com particular incidência no jornal regional «Correio do Sul», que dirigiu durante mais de quarenta anos.
Ocupou o cargo de presidente da Câmara Municipal de Faro, onde se manteve durante dois mandatos, prosseguindo depois durante alguns anos como vereador.
A ele se devem melhoramentos locais, como a fundação do Museu Antonino, em 1932, ou o monumento a Ferreira de Almeida na baixa da cidade.



Ao longo de décadas sucessivas, reúniu imensas obras dedicadas ao Algarve, constituindo a sua biblioteca, na altura a maior da região. Actualmente, uma parte encontra-se na posse da Região de Turismo do Algarve, constituindo um vastíssimo documentário literário sobre o Algarve.
A partir dos anos 80 do século passado, dedicou -se à sua «Algarviana», obra de carácter enciclopédico, com a publicação a cargo da Câmara Municipal de Faro, a qual editou o primeiro volume em Dezembro de 1982, simultaneamente com a homenagem pública que lhe promoveu.
Através da sua consulta, poderão, investigadores e estudantes, encontrar facilmente elementos preciosos para os seus trabalhos ou teses, fonte de utilidade científica e literária, constituindo a obra-prima de toda a cultura algarvia.
Em vida, recebeu ainda a Ordem Militar de Cristo e foi Comendador da Ordem de Mérito Civil de Espanha.


sábado, 8 de março de 2008

Maria Lamas no Dia Internacional da Mulher



Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas nasceu em Torres Novas em 1893. Criança reservada, recebeu uma educação de tipo tradicional no Convento de Santa Teresa de Jesus, que só viria a completar mais tarde, depois de casada. Saiu do colégio em 1910, por alturas da proclamação da República, acontecimento que referia como um dos marcos profundos da sua vida.
No mesmo ano, conheceu o oficial de cavalaria, Ribeiro da Fonseca com quem casaria um ano mais tarde. Apenas com dezassete anos, acompanha, então, o marido, que parte para África, onde permanece até 1920. A sua vivência de África reflecte-se no livro Confissões de Sílvia.
Regressa a Portugal depois do seu divórcio e fixa-se em Lisboa, onde se dedica ao jornalismo.
Começou por trabalhar numa agência de notícias, depois na revista ‘Civilização’ e finalmente no ‘Século’ onde entrou, pela mão de Ferreira de Castro, para dirigir o ‘Modas&Bordados’, uma típica revista para donas de casa, à qual Maria Lamas dedicará 20 anos da sua vida, tentando transformá-la em algo mais significativo.
Manteve, durante anos, a famosa coluna ‘O Correio da Tia Filomena’, onde, dentro dos condicionalismos da censura, falava da condição das mulheres em Portugal.
Sendo o jornal ‘O Século’ um dos expoentes importantes da cultura portuguesa na época, Maria Lamas encontrou aí uma plataforma de trabalho propícia para a sua personalidade dinâmica e afirmativa e desenvolveu vários projectos, organizando conferências, concertos e exposições.
Tendo a mulher portuguesa como temática geral de fundo, ficaram, então, conhecidas algumas das exposições que promoveu e organizou, como por exemplo, a que apresentou teares do Minho, mesas de trabalho de mulheres como a Marquesa de Alorna e Carolina Michaelis, e onde recriou um conjunto de actividades femininas, ou a que foi a realizada com tapetes de Arraiolos fabricados pelas reclusas do estabelecimento prisional das Mónicas e que permitiu a estas algumas horas de liberdade, nos salões do ‘Século’, para apreciarem os seus trabalhos.
Sob o pseudónimo de Rosa Silvestre, escreveu obras infantis, como Caminho Luminoso e Para Além do Amor, entre outras.
Em 1945, Maria Lamas é eleita presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, associação fundada durante a I República e alvo de sistemática repressão pelo regime salazarista. O Conselho viria a ser encerrado algum tempo depois pela P.I.D.E., mas o cargo permite que Maria Lamas percorra o país e conheça melhor a condição das mulheres. Dessas viagens nasce o livro As Mulheres do meu País, que ficará como um referente histórico. Após esta obra publicaria ainda A Mulheres no Mundo e O Mundo dos Deuses e dos Heróis.
As suas opções pessoais e posicionamentos políticos valeram-lhe várias detenções ao longo da vida. A primeira teve lugar como consequência do seu apoio à candidatura do General Norton de Matos. É presa sob a acusação de propagar notícias falsas e pedir a libertação dos presos políticos. Esta seria apenas a primeira de outras detenções, que viriam a afectar profundamente a sua saúde e a determinar a sua condição de exilada política.
A partir de 1961, na qualidade de Membro do Conselho Mundial da Paz fixa-se, em exílio, durante oito anos, na cidade de Paris. É da janela do seu quarto no Hotel Saint-Michael que apoia os jovens durante o Maio de 1968, passando-lhes baldes de água para se protegerem dos gases lacrimogéneos.
Apesar dos seus oitenta anos, apoia ainda com todo o vigor a revolução do 25 de Abril, em Portugal.
Como directora honorária do Modas&Bordados, foi uma das primeiras pessoas a receber a Ordem da Liberdade das mãos do Presidente da República.
Maria Lamas faleceu em Évora aos noventa anos de idade deixando na memória de todos os que com ela conviveram a marca de uma personalidade rica, invulgar e influente, de forma duradoura, para a construção de uma visão nova e alargada do papel da mulher e da democracia.


E agora, um poema do inesquecível, saudoso, sempre presente, Ary dos Santos:






Mulher



A mulher não é só casa

mulher-loiça, mulher-cama

ela é também mulher-asa,

mulher-força, mulher-chama


E é preciso dizer

dessa antiga condição

a mulher soube trazer

a cabeça e o coração


Trouxe a fábrica ao seu lar

e ordenado à cozinha

e impôs a trabalhar

a razão que sempre tinha


Trabalho não só de parto

mas também de construção

para um filho crescer farto

para um filho crescer são


A posse vai-se acabar

no tempo da liberdade

o que importa é saber estar

juntos em pé de igualdade



Desde que as coisas se tornem

naquilo que a gente quer

é igual dizer meu homem

ou dizer minha mulher


Ary dos Santos
( Trouxe da Amigona/ Instantes da Vida)


E Aqui Deixo Flores Para Todas As Mulheres. Bem Hajam! Lutem sempre!


sábado, 1 de março de 2008

António Aleixo " O Poeta - Cauteleiro"

António Aleixo nasceu a 18 de Fevereiro de 1899 em Vila Real de Santo António e morreu em Loulé, a 16 de Novembro de 1949.
Foi guardador de cabras, cantor popular de feira em feira, soldado, polícia, tecelão, servente de pedreiro em França, cauteleiro e POETA.
Apesar de semi-analfabeto deixa obra escrita que o Dr. Joaquim Magalhães, professor de Literatura Portuguesa no Liceu Nacional de Faro, meu professor, amigo durante décadas, teve o cuidado e o prazer de redigir com correcção ortográfica: «Este livro que vos deixo», «O Auto do Curandeiro», «O Auto da Vida e da Morte», «O Auto do Ti Jaquim» ( incompleto) e «Inéditos».
Em homenagem ao Poeta e à sua obra, foi levantado um monumento junto da esplanada do “Café Calcinha”, em Loulé, onde costumava vender lotaria.
O antigo Liceu Nacional de Portimão passou a chamar-se Escola Secundária Poeta António Aleixo.
Há alguns anos também passou a existir a «Fundação António Aleixo» com sede em Loulé e que já usufrui do estatuto de utilidade pública, o que lhe permite atribuir bolsas de estudo aos mais carenciados.


Estátua do poeta na esplanada onde apregoava sonhos

Fui polícia, fui soldado,
Estive fora da nação;
Vendo jogo, guardei gado,
Só me falta ser ladrão.

De vender a sorte grande,
Confesso, não tenho pena;
Que a roda ande ou desande
Eu tenho sempre a pequena.




Poeta, não, camarada,
Eu também sou cauteleiro;
Ser poeta não dá nada,
Vender jogo dá dinheiro.




Não há nenhum milionário
Que seja feliz como eu:
Tenho como secretário
Um professor do liceu.



Não é só na grande terra
Que os poetas cantam bem:
Os rouxinóis são da serra
E cantam como ninguém.

Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.



Um homem quando tem notas,
Pode ser perverso e falso:
Todos lhe engraxam as botas:
Se as não tem, anda descalço.



Negociante viveste
Tens dinheiro e excelência;
São coisas que recebeste
A troco da consicência.

Vem da serra um infeliz
Vender sêmea por farinha;
Passado tempo já diz:
- Esta rua é toda minha.

És feliz, vives na alta
E eu de rastos como a cobra.
Porquê? Porque tens de sobra
O pão que a tantos faz falta.

Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado.
O ribeirinho não morre,
Vai correr por todo lado.



Vós que lá do vosso império
Prometeis um mundo novo
Calai-vos, que pode o povo
Qu'rer um mundo novo a sério.



Que o mundo está mal, dizemos
E vai de mal a pior;
E, afinal, nada fazemos
Para que ele seja melhor.





António Aleixo