sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Andava a lua nos céus



Andava a lua nos céus
Com o seu bando de estrelas

Na minha alcova
Ardiam velas
Em candelabros de bronze

Pelo chão em desalinho
Os veludos pareciam
Ondas de sangue e ondas de vinho

Ele, olhava-me cismando;
E eu,
Plácidamente, fumava,
Vendo a lua branca e nua
Que pelos céus caminhava.

Aproximou-se; e em delírio
Procurou avidamente
E avidamente beijou
A minha boca de cravo
Que a beijar se recusou.

Arrastou-me para ele,
E encostado ao meu hombro
Falou-me de um pagem loiro
Que morrera de saudade
À beira-mar, a cantar...

Olhei o céu!

Agora, a lua, fugia,
Entre nuvens que tornavam
A linda noite sombria.

Deram-se as bocas num beijo,
Um beijo nervoso e lento...
O homem cede ao desejo
Como a nuvem cede ao vento

Vinha longe a madrugada.

Por fim,
Largando esse corpo
Que adormecera cansado
E que eu beijara, loucamente,
Sem sentir,
Bebia vinho, perdidamente
Bebia vinha..., até cair.



António Botto

5 comentários:

João Roque disse...

Este foi a pedido, ou estou a ser presunçoso?
De qualquer forma, obrigado!

Zé Povinho disse...

Por acaso a lua hoje não está visível por cá, mas no poema está bem presente.
Abraço do Zé

o escriba disse...

Lindo poema!

bjs
Esperança

Graça Pires disse...

Gosto da poesia de António Botto. Este poema é muito expressivo. Obrigada. Um beijo.

Branca disse...

Sempre nos teus espaços a poesia de todos os tempos e de tantos dos nodssos bons poetas, por vezes esquecidos.
Bem-hajas Isabel.
Beijinhos
Branca

P.S. Tenho andado um pouco ausente por cansaço,mas vou voltando.