quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Sophia de Mello Breyner





É uma das escritoras contemporâneas com maior projecção nacional.
Nasceu no Porto em 6 de Novembro de 1919, numa família aristocrática de ascendência dinamarquesa, e faria hoje 95 anos se cá estivesse. Viveu no Porto até aos dez anos e, posteriormente, em Lisboa. Colaborou em revistas literárias: «Cadernos de Poesia» (1940-42), «Árvore» (1951-1958) e «Távola Redonda» (1950-1954).
A sua obra abrange a poesia, o conto, sobretudo infantil, o ensaio e a tradução. No seu mundo poético, o mar, a terra, a casa, a infância e a família ocupam um espaço privilegiado. Teve um papel importante de intervenção social e cívica durante o período antes do 25 de Abril. Posteriormente, foi deputada à Assembleia Constituinte pelo Partido Socialista. Contudo, é como poeta que se destaca: a sua vasta obra é considerada excepcional e, por isso, nunca é demais lembrar a sua poesia.

Sophia de Mello Breyner descreve a sua  Arte Poética num texto lido em 11 de Julho de 1964, no almoço de homenagem promovido pela Sociedade Portuguesa de escritores, por ocasião da entrega do grande Prémio de Poesia, atribuído a Livro Sexto.
«A coisa mais antiga de que me lembro é dum quarto em frente do mar dentro do qual estava, poisada em cima de uma mesa, uma maçã enorme e vermelha. Do brilho do mar e do vermelho da maçã erguia-se uma felicidade irrecusável, nua e inteira. Não era nada de fantástico, não era nada de imaginário: era a própria presença do real que eu descobria. Mais tarde a obra de outros  artistas veio confirmar a objectividade do meu próprio olhar. Em Homero reconheci essa felicidade nua e inteira, esse esplendor da presença das coisas. E também a reconheci intensa, atenta e acesa na pintura de Amadeo de Souza-Cardoso. Dizer que a obra de arte faz parte da cultura é uma coisa um pouco escolar e artificial. A obra de arte faz parte do real e é destino, realização, salvação e vida.
Sempre a poesia foi para mim uma perseguição do real. Um poema foi sempre um círculo traçado à roda duma coisa, um círculo onde o pássaro do real fica preso. E se a minha poesia, tendo partido do ar, do amor e da luz, evoluiu, evoluiu sempre dentro dessa busca atenta. Quem procura uma relação justa com a pedra, com a árvore, com o rio, é necessariamente levado, pelo espírito de verdade que o anima, a procurar uma relação justa com o homem. Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo. Aquele que vê o fenómeno quer ver todo o fenómeno. É apenas uma questão de atenção, de sequência e de rigor (...)».
© Instituto Camões, 200

Eis um dos seus poemas:



Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

in Mar Novo (1958)


5 comentários:

Andradarte disse...

"Sophia, sempre!"
Esclarecedor.
Bfs
Beijo

Mar Arável disse...


Com o mar nos olhos

sempre

Existe Sempre Um Lugar disse...

Bom dia, divulgar Sophia de Mello Breyner nunca é demais, embora seja suficiente conhecida no mundo cultural, a divulgação trás recordações do que já foi lido e motivação para ler o que ainda não foi lido.
AG

lagartinha disse...

OLá amiga,
Em primeiro lugar, obrigada pela palavra amiga deixada na minha página.
Em segundo lugar, obrigada por me fazer aprender a gostar de SMB. De tanto ler sobre ela, fez-me ler a sua obra, ainda estou a começar, mas já compreendo a paixão mostrada aqui e, tem-me ajudado bastante.
Bjks

DE-PROPOSITO disse...

FELIZ NATAL e que 2015 SEJA MELHOR QUE 2014.

Felicidades
MANUEL