quarta-feira, 30 de abril de 2008

1º de Maio, O Dia do Trabalhador



A todos que saíram às ruas,
De corpo-máquina cansado,
A todos que imploram feriado
As costas que a terra extenua
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário - este é meu maio!
Sou camponês - este é o meu mês!
Sou ferro - eis o maio que quero!
Sou terra - o maio é minha era!”

(Meu Maio, Vladimir Maiakovski)


Obrigada, Ludo!




O 1º de Maio , Dia do Trabalhador, tem uma história longa , triste mas vitoriosa. Em finais do século XIX, com o início da industrialização, começaram a aparecer novos problemas relacionados com o trabalho. Um dos principais era o horário de trabalho que, nalguns casos, chegava a ultrapassar as dezasseis horas diárias.
Alguns reformadores sociais já tinham proposto, em várias épocas, a ideia de dividir o dia em três períodos: oito horas de trabalho, oito horas de sono e oito horas de lazer e estudo, proposta que, como sempre, era vista como utópica pelos empregadores. Com o desenvolvimento do associativismo operário e do sindicalismo, a proposta da jornada de oito horas tornou-se um dos objectivos centrais das lutas operárias e também causa de violentas repressões e de inúmeras prisões e até morte de trabalhadores. No 1º de Maio de 1886, milhares de trabalhadores de Chicago, tal como de muitas outras cidades americanas, foram para a rua, exigindo o horário de oito horas de trabalho por dia. No dia 4 de Maio, durante novas manifestações, uma explosão serviu de pretexto para a repressão brutal que se seguiu, que provocou mais de 100 mortes e a prisão de dezenas de operários. Este acontecimento, que ficou conhecido como os "Mártires de Chicago", tornou-se o símbolo e marco para uma luta que, a partir daí, se generalizou por todo o mundo.


Entre nós, a luta pelo horário de oito horas também tem uma longa história mas só em Maio de 1996 o Parlamento aprovou a lei da semana de 40 horas (oito horas diárias de segunda a sexta feira).


As novas formas de organização do trabalho, a precarização e a globalização trazem novos problemas que os trabalhadores têm de enfrentar. A exploração do trabalho infantil e da mulher, bem como dos imigrantes, são um desafio permanente à imaginação e à capacidade de organização e de luta dos trabalhadores.


O facto de os homens e as mulheres, em várias partes do mundo, sentirem como próprias as injustiças e as violações dos direitos humanos cometidas em países longínquos, que talvez nunca visitem, é mais um sinal de uma realidade interiorizada na consciência, adquirindo assim conotação moral.Trata-se, antes de tudo, da interdependência apreendida como sistema determinante de relações no mundo contemporâneo, com as suas componentes - económica, cultural, política e religiosa - e assumida como categoria moral. Quando a interdependência é reconhecida assim, a resposta correlativa, como atitude moral e social e como "virtude", é a solidariedade, a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos.


O 1º de Maio, apesar de herdeiro de uma forte tradição de luta operária, à mistura com perseguições, prisões e até mortes, não pode ser um dia triste. Recordemos as conquistas, as pequenas e as grandes ,que os trabalhadores foram conseguindo através dos tempos.


Façamos a festa!




( tirado da net)




segunda-feira, 28 de abril de 2008

A Poesia de António Franco Alexandre

Monet


Nesta última tarde em que respiro


A justa luz que nasce das palavras

E no largo horizonte se dissipa

Quantos segredos únicos, precisos,

E que altiva promessa fica ardendo

Na ausência interminável do teu rosto.

Pois não posso dizer sequer que te amei nunca

Senão em cada gesto e pensamento

E dentro destes vagos vãos poemas;

E já todos me ensinam em linguagem simples

Que somos mera fábula, obscuramente

Inventada na rima de um qualquer

Cantor sem voz batendo no teclado;

Desta falta de tempo, sorte, e jeito,

Se faz noutro futuro o nosso encontro.



António Franco Alexandre


In Uma fábula


Assírio & Alvim, Edições









Nascido em 1944, em Viseu, António Franco Alexandre é tido como um dos melhores poetas nacionais da actualidade. Doutorado em Matemática e em Filosofia, viveu e estudou em França e nos Estados Unidos.
A estreia na publicação dá-se em 1969, com "Distância". O ano da revolução de Abril é especialmente prolífero: o poeta lança "Visitação", "A Pequena Face", "Dos Jogos de Inverno", "Sem Palavras Nem Coisas". No ano seguinte, regressa a Portugal para leccionar na Faculdade de Letras de Lisboa.
Segue-se a publicação das obras "Os Objectos Principais" (1979), "A Pequena Face" (1983), "As Moradas "1&2 (1987), "Oásis" (1992). Em 1996 reúne todos os livros que havia publicado até então, à excepção do primeiro, em Poemas.
Em 1999, "Quatro Caprichos" vence o Prémio APE de Poesia, trazendo-lhe maior reconhecimento.
"Duende" é, segundo Eduardo Prado Coelho, «um dos mais belos livros de poesia amorosa que se escreveram desde há muito em língua portuguesa». O juri do Prémio Corrente D´escritas classifica-o como «um livro que conjuga numa tensão permanente o fragmento e a totalidade, num poema feito de 52 sonetos, onde a originalidade do processo enunciativo impera dificultando a leitura, mas onde o ritmo e a rima colmatam essa dificuldade no sentido de uma evidência».
É a consagração de um poeta de cuja vida pouco se conhece, mas cuja obra não esqueceremos facilmente.

domingo, 27 de abril de 2008

Estou sem Palavras




As palavras
São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.



Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.


Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.



E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?



Eugénio de Andrade





Conhecer alguém aqui e ali que pensa e sente como nós, e que embora distante, está perto em espírito, eis o que faz da Terra um jardim habitado.
(Goethe)














quinta-feira, 24 de abril de 2008

E os cravos floriram naquela madrugada de 25 de Abril

Do Google



25 de Abril



Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen

Do Google




Trova do Mês de Abril




Foram dias foram anos a esperar por um só dia.
Alegrias. Desenganos. Foi o tempo que doía
com seus riscos e seus danos. Foi a noite e foi o dia
na esperança de um só dia.
...

Manuel Alegre


Maria Keil






Do Google



Traz outro amigo também

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja bem-vindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

José Afonso



Do Google

Portugal Ressuscitado

Depois da fome,
da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.

Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Vi nas bocas
vi nos olhos
nos braços
nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.

Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.

Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.

Ary dos Santos




quarta-feira, 23 de abril de 2008

Cantar Alentejano



Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem a matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar.

Zeca Afonso


segunda-feira, 21 de abril de 2008

Abril de Abril

Tirado do google
Era um Abril de amigo Abril de trigo
Abril de trevo e trégua e vinho e húmus
Abril de novos ritmos novos rumos.
Era um Abril comigo Abril contigo
ainda só ardor e sem ardil
Abril sem adjectivo Abril de Abril.
Era um Abril na praça Abril de massas
era um Abril na rua Abril a rodos
Abril de sol que nasce para todos.
Abril de vinho e sonho em nossas taças
era um Abril de clava Abril em acto
em mil novecentos e setenta e quatro.
Era um Abril viril Abril tão bravo
Abril de boca a abrir-se Abril palavra
esse Abril em que Abril se libertava.
Era um Abril de clava Abril de cravo
Abril de mão na mão e sem fantasmas
esse Abril em que Abril floriu nas armas.
Manuel Alegre

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Portugal Ressuscitado

Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.
Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.

Vi as portas da prisã
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.

Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.

José Carlos Ary dos Santos

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Irene Lisboa


Maluda, Telhados de Lisboa





Outro dia
O melro canta,

e já quase me é indiferente…
Mas sempre é uma voz
que se distingue,
aflautada e fresca,
entre os ruídos ingratos
da manhã:pregões de jornais,
apitos, carros…
Um vapor parte;
ouve-se aquela sua zoada
sem timbre,
soprada e grave,
falha de harmonia…
Melro, canta!
Tenho o coração murcho
e triste…

Irene Lisboa


Irene Lisboa nasceu no Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos, a 25 de Dezembro de 1892. Professora primária, estudou na Suíça, Bélgica, tendo contactado com Piaget, em Genebra e França, onde se especializou no ensino infantil. Estreou-se em 1926, com o livro de contos, "13 Contarelos" a que se seguiram dois livros de poesia:" Um Dia e Outro Dia…" (1936) e "Outono Havias de Vir" (1937), ambos sob o pseudónimo João Falco. Colaborou em inúmeros jornais e revistas, tais como Seara Nova, O Diabo, Vértice, O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, etc.

Faleceu em Lisboa, na madrugada de 25 de Novembro de 1958. ( Tirado da net)

terça-feira, 15 de abril de 2008

Um mês, Maria! Parabéns!



MARIA

a esta praia deste
maria
era o meio do mês em que
a vida adormecida
reganha cor
e veste os campos
de tenros rebentos
de um tempo novo



a esta praia deste
maria
na barca da sereia embalada
por ondas ternas
que se espreguiçam
em branca espuma
até ao primeiro beijo
na praia



E antes do despertar da aurora
já tu, mar, maria,
acenderas de azul
corações estreitos
em ânsias de sentir
na areia
o beijo da maré
que te traria.


foi então quando
à praia deste
à praia dos afectos
maria
maria mar maresia


Para a Maria e sua vóvó Sophiamar - Jorge G

Obrigada, Jorge!





quarta-feira, 9 de abril de 2008

Mar



Mar, metade da minha alma é feita de maresia

Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,

Que há no vasto clamor da maré cheia,

Que nunca nenhum bem me satisfez.

E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia

Mais fortes se levantam outra vez,

Que após cada queda caminho para a vida,

Por uma nova ilusão entontecida.





E se vou dizendo aos astros o meu mal

É porque também tu revoltado e teatral

Fazes soar a tua dor pelas alturas.

E se antes de tudo odeio e fujo

O que é impuro, profano e sujo,

É só porque as tuas ondas são puras.




Sophia de Mello Breyner Andresen







sexta-feira, 4 de abril de 2008

Maria... Maresia!

Imagem tirada da net



Chegaste à praia em noite de maré cheia
Onda de ternura no areal derramada
És amor que me aquece a alma
Minha neta querida, minha amada


Da vastidão azul onde o meu coração navega
Vieste menina tão desejada
Trouxeste em ti o sabor do sal
Maria , nina minha, flor encantada


Romance de amor terno e risonho
Meu orgulho, minha fantasia, minha vaidade
Canto a tua chegada, meu sonho
Meu sol primaveril
Porque te tenho, porque te quis
Sinto-me mulher renovada

Sou feliz!

Isabel Mares

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Maria Gabriela Llansol 1931/2008

Maria Gabriela Llansol Nunes da Cunha Rodrigues Joaquim, conhecida como Maria Gabriela Llansol nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1931 e faleceu em Sintra a 3 de Março de 2008.
Escritora portuguesa de ascendência espanhola, licenciou-se em Direito e em Ciências Pedagógicas, tendo trabalhado em áreas relacionadas com problemas educacionais. Em 1965, abandonou Portugal para se fixar na Bélgica tendo regressado há alguns anos a Portugal. Considerada uma autora cuja escrita é hermética e de difícil inteligibilidade para o leitor comum, é, no entanto, apontada por muitos como um dos nomes mais inovadores e importantes da ficção portuguesa contemporânea. A sua carreira literária iniciou-se com Os Pregos na Erva (1962), obra que inaugurou uma nova forma de escrever, embora estruturalmente se assemelhe a um livro de contos. Publicou de seguida Depois de os Pregos na Erva (1972), O Livro das Comunidades (1977), A Restante Vida (1983), Na Casa de Julho e Agosto (1984), Causa Amante (1984), Contos do Mal Errante (1986), Da Sebe ao Ser (1988), Um Beijo Dado Mais Tarde (1990), com evidentes ressonâncias autobiográficas, Lisboaleipzig 1: O Encontro Inesperado do Diverso (1994), Lisboaleipzig 2: O Ensaio de Música (1995), Ardente Texto Joshua (1998) e Onde Vais Drama Poesia? (2000).


No caso de Maria Gabriela Llansol dificilmente se podem aplicar designações tradicionais como conto, romance ou mesmo diário. Apesar de se detectarem elementos tradicionais da narrativa, as suas obras, mais do que narrativas, são conjuntos de pequenos quadros e meditações. A acção localiza-se geralmente na Alemanha ou em regiões próximas, nos primórdios do Renascimento, num ambiente fantástico em que à volta de Copérnico, Isabol ou Hadewijch se movimentam personagens inspirados em pensadores místicos como San Juan de la Cruz e Eckhart e filósofos como Nietzsche e Espinosa. Os diários Um Falcão em Punho (1985), considerado o ponto de viragem no que toca à cada vez maior inteligibilidade da sua escrita, e Finita (1987), distinguem-se das obras ficcionais pela sua aparente ordenação cronológica e pelas reflexões sobre a concepção materialista em que se baseia a mística e a poética da autora. Um dos traços mais marcantes de toda a sua produção consiste na constante negação da escrita representativa, com inserção no texto de diferentes caracteres tipográficos, espaços em branco, traços que dividem o texto, perguntas de retórica, aspectos que contribuem para a sensação de estranheza que os seus textos provocam.