quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Até Sempre!

Aproveitei o último dia de Dezembro para fazer uma reflexão sobre o ano que agora finda e o novo que logo, logo, se iniciará. A época é propícia a balanços e tomei a decisão de fazer uma retrospectiva pessoal dos meus últimos dezoito meses como bloguista. Aqui " A Ver O Mar". É salutar fazer-se, de quando em vez, uma retrospectiva de vida, interrogarmo-nos se o percurso seguido está de acordo com os nossos objectivos, sonhos, expectativas e tentar um aperfeiçoamento desse rumo ou mesmo uma mudança radical.
É costume dizer-se nesta época "Ano Novo, Vida Nova". Embora eu nunca me tivesse sentido arrebatada por essa onda de optimismo que a muitos invade , ou temos realmente a coragem e a vontade de modificar alguma coisa na nossa vida, ou simplesmente continuaremos a manter o mesmo quotidiano em que o tempo passa a correr, deteriorando o nosso bem-estar assim como o daqueles que nos são mais queridos e íntimos.
Achei então que esta era a altura ideal para fazer uma reflexão sobre a continução do Sophiamar, que tenho vindo a adiar, dia após dia. Chegara a hora de colocar em prática aquilo que sistematicamente vinha protelando.
Os problemas do passado, ao passado pertencem, costumo dizer, falando das desgraças de outrora, ainda que delas aproveite sempre a lição que há que aproveitar mas, desta vez, não está a ser fácil libertar-me das amarras de um passado tão próximo. Não quero vitimizar-me mais. Acaba por ser mais confortável rasgar estas páginas e tomar as rédeas de um novo projecto. Quero ir mais além!
Neste final de 2008, quero enterrar memórias que muito me marcaram sem deixar de assumir parte da minha responsabilidade no insucesso de alguns relacionamentos,muito poucos, voltar a escrever, voltar a sentir-me verdadeiramente livre!
Estamos mesmo, mesmo a entrar em 2009, ano que não se adivinha fácil nem em Portugal nem no Mundo nem podemos transformá-lo, por mais que o queiramos, num golpe de magia, num ano fantástico da nossa vida! Eu sinto-me igualzinha ao que fui ontem, anteontem mas confesso que tentarei, desta vez, não ficar indiferente à data do calendário. Ano Novo, Vida Nova.
Encontrar-nos-emos por aí, meus queridos amigos.Reconhecer-me-ão!

Abraços para quem é de abraços, beijinhos para quem é de beijinhos.

Um Ano Novo muito feliz.

Bem-hajam por tudo de bom quanto me deram. E foi tanto!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Receita de Ano Novo

recados do orkut

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Drummond de Andrade

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Recomeça

Orkutei.com  Recados Animados para seu Orkut


Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…

Miguel Torga




sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Natal



Enquanto a chuva
Escorrer da minha vidraça
E furar o telhado
Daquele farrapo de homem que além passa
Enquanto o pão
Não entrar com justiça
Lado a lado
Mão a mão
Nem Jesus vem
Andar pelos caminhos onde outros vão
Um dia
Quando for Natal
(E já não for Dezembro)
E o mundo for o espaço
Onde cabe
Um só abraço
Então
Jesus virá
E será
À flor de tudo
O Redentor
Universal
(Quando o homem quiser
Será Natal)

Manuel Sérgio

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal



Soa a palavra nos sinos,
E que tropel nos sentidos,
Que vendaval de emoções!
Natal de quantos meninos
Em nudez foram paridos
Num presépio de ilusões.

Natal da fraternidade
Solenemente jurada
Num contraponto em surdina.
A imagem da humanidade
Terrenamente nevada
Dum halo de luz divina.

Natal do que prometeu,
Só bonito na lembrança.
Natal que aos poucos morreu
No coração da criança,
Porque a vida aconteceu
Sem nenhuma semelhança.

Miguel Torga

Bofinho, Alvaiázere, 9 de Fevereiro de 1975

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Natal



Menino Jesus, que nasces
Quando eu morro,
E trazes a paz
Que não levo,
O poema que te devo
Desde que te aninhei
No entendimento,
E nunca te paguei
A contento
Da devoção,
Mal entoado,
Aqui te fica mais uma vez
Aos pés,
Como um tição
Apagado,
Sem calor que os aqueça.
Com ele me desobrigo e desengano:
És divino, e eu sou humano,
Não há poesia em mim que te mereça.



Miguel Torga

(Gaia, 24 de Dezembro de 1990)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Natal



Outro Natal.
Outra comprida noite
De consoada,
Fria,
Vazia,
Bonita só de ser imaginada.
Que fique dele, ao menos,
Mais um poema breve,
Recitado
Pela neve
Ao cair, ao de leve,
No telhado.

Miguel Torga

S. Martinho de Anta, 24 de Dezembro de 1975

domingo, 21 de dezembro de 2008

Natal



Nem pareces o mesmo
Exposto
Num presépio de gesso!
E nunca foi tão santa no teu rosto
Esta paz que me dás e não mereço.
É fingida também a neve
Que te gela a nudez.
Mas gosto dela assim,
A ser tão branca em mim
Pela primeira vez.

Miguel Torga

sábado, 20 de dezembro de 2008

Natal




Natal divino ao rés-do-chão humano,
Sem um anjo a cantar a cada ouvido.
Encolhido
À lareira,
Ao que pergunto
Respondo
Com as achas que vou pondo
Na fogueira.
O mito apenas velado
Como um cadáver
Familiar…
E neve, neve, a caiar
De triste melancolia
Os caminhos onde um dia
Vi os Magos galopar…

Miguel Torga

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Natal



Foi tudo tão pontual
Que fiquei maravilhado.
Caiu neve no telhado
E juntou-se o mesmo gado
No curral.

Nem as palhas da pobreza
Faltaram na manjedoira!
Palhas babadas da toira
Que ruminava a grandeza
Do milagre pressentido.
Os bichos e a natureza
No palco já conhecido.

Mas afinal o cenário
Não bastou:
Fiado no calendário,
O homem nem perguntou
Se Deus era necessário...
E Deus não representou.

Miguel Torga

S. Martinho de Anta

25 de Dezembro de 1950

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Natal




Leio o teu nome
Na página da noite:
Menino Deus...
E fico a meditar
No milagre dobrado
De ser Deus e menino.
Em Deus não acredito.
Mas de ti como posso duvidar?
Todos os dias nascem
Meninos pobres em currais de gado.
Crianças que são ânsias alargadas
De horizontes pequenos,
Humanas alvoradas...
A divindade é o menos.

Miguel Torga

(S. Martinho de Anta, 24 de Dezembro de 1966)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Natal




Um Deus à nossa medida…
A fé sempre apetecida
De ver nascer um menino
Divino
E habitual.
A transcendência à lareira
A receber da fogueira
Calor sobrenatural.

Miguel Torga

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

História Antiga



Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças

Miguel Torga

domingo, 7 de dezembro de 2008


Velho Menino-Deus que me vens ver
Quando o ano passou e as dores passaram:
Sim, pedi-te o brinquedo, e queria-o ter,
Mas quando as minhas dores o desejaram...

Agora, outras quimeras me tentaram
Em reinos onde tu não tens poder...
Outras mãos mentirosas me acenaram
A chamar, a mostrar e a prometer...

Vem, apesar de tudo, se queres vir.
Vem com neve nos ombros, a sorrir
A quem nunca doiraste a solidão...

Mas o brinquedo... quebra-o no caminho.
O que eu chorei por ele! Era de arminho
E batia-lhe dentro um coração...


Miguel Torga

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Data


Tempo de solidão e de incerteza
Tempo de medo e tempo de traição
Tempo de injustiça e de vileza
Tempo de negação


Tempo de covardia e tempo de ira
Tempo de mascarada e de mentira
Tempo de escravidão


Tempo dos coniventes sem cadastro
Tempo de silêncio e de mordaça
Tempo onde o sangue não tem rasto
Tempo da ameaça


Sophia de Mello Breyner

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dia Mundial da Luta Contra a Sida


A síndrome de imuno-deficiência adquirida, conhecida em Portugal e nos outros países de língua oficial portuguesa pelo acrónimo SIDA, excepto no Brasil ,onde se usa a sigla em inglês AIDS, é uma doença viral, causada pelo virús HIV, que afecta todo o sistema imunitário. O alvo principal são os linfócitos T4 CD+ fundamentais para a coordenação das defesas do organismo. Assim que o número destes linfócitos desce abaixo de certo nível (o centro de controle de doenças dos Estados Unidos define como 200 por ml3), o colapso do sistema imunitário é possível abrindo caminho a doenças oportunistas, que podem matar o doente.

Descoberto na década de oitenta do século passado, este vírus já matou muitos milhões de pessoas em todo o mundo pelo que é importante que saibamos tudo quanto a ele diz respeito.

Visite o site da Nações Unidas

1 de Dezembro de 1640- A Restauração da Independência


Na manhã do dia 1º de Dezembro de 1640, viam-se no Terreiro do Paço (Lisboa), numerosas carruagens de cortinas corridas. Ao soarem as nove badaladas nos sinos da torre da igreja, abrem-se, de repente, as portas das carruagens, saindo delas muitos soldados armados. Caminham em direcção ao Paço habitado pela Duquesa de Mântua que governava Portugal em nome do rei de Espanha. Desarmam os guardas e entram no palácio. Procuram Miguel de Vasconcelos, Secretário de Estado, que se escondera dentro de um armário, tiram-lhe a vida e lançam à praça o corpo de traidor português, símbolo odiado do domínio estrangeiro. Na praça, o povo que já corria em magote, apoderou-se do traidor, Miguel de Vasconcelos, mutilando-o furiosamente. Por essa altura, já o Duque de Bragança era aclamado por todos como João IV, rei de Portugal. Os conspiradores tiveram alguma dificuldade em convencer a regente do reino, a Duquesa de Mântua, a retirar-se, pois ela tentava ainda dissuadir o povo, falando-lhes de uma janela. Foi então que João Pinto Ribeiro e seus pares, tiveram uma atitude firme perante a Duquesa de Mântua, ao perguntar-lhe: "Vossa Excelência deseja sair por aquela porta, ou por essa janela ?". A Duquesa, vendo então a gravidade da situação, resolveu ceder, enquanto cá fora o povo gritava sem parar: Viva Portugal !!!O velho D. Miguel de Almeida assoma a uma das varandas do paço. As lágrimas correm-lhe pelas barbas brancas. Levanta a espada nua e grita, trémulo de emoção:“Liberdade ! Liberdade ! Viva El-Rei D. João IV! O oitavo Duque de Bragança é o nosso legítimo rei. O céu restituiu-lhe a coroa, para que o Reino de Portugal ressuscite. A promessa de Cristo a D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei, será cumprida !”.O Duque de Bragança, futuro D. João lV, ouvia missa, no Paço Ducal de Vila Viçosa, quando lhe deram a notícia de que fora proclamado rei de Portugal. E foi assim que quarenta valorosos guerreiros nos deram livre a Nação ! Há 368 anos!

domingo, 23 de novembro de 2008

A amizade virtual



«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta,que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!


Alexandre O'Neill,



Muitas são as vezes em que dou comigo a questionar-me sobre a amizade virtual. Será que existem dois tipos de amizade? Não é ela um sentimento único como sempre me ensinaram? Não vai nascendo, crescendo e consolidando com as palavras que aqui trocamos durante meses, anos a fio? Será o computador um criador de amizades inconsistentes que se fazem e desfazem sem deixar sequelas? Não o creio nem o sinto. Eu conheço algumas das pessoas que me comentam. Por fotografia, pela voz, por fotografia e voz, pelas palavras que escrevem ( nós também somos o que escrevemos) mas não será isso suficiente para que um conhecimento aqui nascido se transforme, com o tempo, numa sólida amizade?
Aqui partilhamos alegrias, tristezas, confidências, enfim, o nosso quotidiano. Que outro nome podemos dar a esta partilha constante que não o de amizade?
Eu acredito nos sentimentos que aqui se vão gerando. Eu tenho saudades dos que foram deixando a blogosfera, dos que não se despediram, não deixaram endereço. Compreendo, no entanto, que nem sempre o tempo nos permite escrever as palavras que desejaríamos mas não compreendo a ausência definitiva sem que que uma troca de palavras com acinte tivesse existido,um pedido explícito para não comentar ou excluir o link da lista que exibimos no blog. Eu alegro-me com os comentários que me vão deixando, eu sinto que há algo que me une a quem por aqui passa, a uns mais do que a outros,naturalmente, mas preocupo-me com a seu estado de saúde, com a sua ausência, com o seu mutismo.
Continuo sem perceber por que razão estas amizades virtuais não têm a credibilidade das outras, as que mantemos com aqueles que cresceram connosco, que estão à nossa beira e com quem, de olhos nos olhos, partilhamos os diferentes estados de alma.
Este mundo, a blogosfera, é, cada vez mais, uma parte de mim, de nós, assim o sinto, e aqui estou disponível, agora quase recuperada, para os meus amigos. Para quem vier por bem.
Em nome da amizade que aqui vou construindo, e muito especialmente àqueles que desde a primeira hora, por mail, por telefone,no blog me deram a mão deixo um beijo, a minha amizade e o meu bem-hajam!

domingo, 16 de novembro de 2008

Dar de Vaia

da net
Nem uma nuvem macula o céu da minha aldeia serrana. Rodeada de verde, de pardalitos laboriosos que debicam aqui e ali, ouvindo os espanta-espíritos dependurados no beiral do alpendre, tocados por uma leve brisa, apeteceu-me dar-vos de vaia. Deambulando entre o mar e a serra, tento arranjar o antigo vigor que me caracterizava. Se por um lado me tenho sentido sem vontade de escrever por outro é importante aproveitar estes momentos que vêm contrariar a abulia dos últimos meses. Por isso aqui estou. E muitos têm sido os amigos que por mail, através de comentários e telefonemas me têm feito sentir que este lado virtual, distante, não é tanto assim.Existe, é verdadeiro,há quem esteja atento aos sinais de alarme. Bem-hajam aqueles que me fizeram chegar as suas palavras de conforto e amizade.
Apetecia-me ficar aqui à conversa, contar-vos como têm sido os últimos meses mas não é para isso que aqui estou. E quero falar-vos de outras coisas a curto prazo. A memória elefantina que possuo ( sou,nesse aspecto, uma privilegiada) permitir-me-ia ficar a escrever horas a fio dos costumes deste sítio serrano onde me abrigo ao fim-de-semana mas,neste momento, o talento também se escoou.Se alguma vez o tive! Há uns anos, gozava o silêncio do campo, punha as leituras em dia, dormitava,dava um passeio pelas veredas e carreiros que me levavam ao Ribeiro da Serra, à Fonte Férrea, ao Moinho de Vento e no regresso tinha um almoço ou um jantar daqueles que nos fazem crescer água na boca.
Agora vou ficando por aqui, faço uma pequena jardinagem porque há quem faça a maior, olho a azinheira centenária plantada pelo bisavô e, de repente, lembro-me que a minha mãe faria anos hoje. Cresci debaixo de uma das suas asas. A outra abrigava toda a família. Uma verdadeira matriarca! Ainda não me recompus da sua perda. Não me recomporei mas a saudade vai atenuando com a chegada dos netos. A primeira, a única por enquanto, é a menina dos meus olhos. Os dela têm a cor da serra e do mar e aposto convosco que há-de gostar tanto das gentes serranas quanto gostam os avós e o pai. Quanto gostaram os seus ascendentes. Gente de boa cepa, rija como a terra o exige, que prefere quebrar a torcer.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Obrigada, Elvira! Bem-hajas, Amiga!


Lua Adversa


"Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu..."


Cecília Meirelles



A minha amiga Elvira Carvalho, do blog Sexta-Feira, deu-me a conhecer este poema de Cecília Meirelles, deixando-o no blog Alfazema. Porque ela sabe que eu gosto de poesia, a Elvira é uma presença quase diária na minha vida, e tem prazer em fazer felizes aqueles que com ela convivem é um privilégio ser sua amiga e é com muito gosto que aqui o publico.Gostei muito de o ter lido.

Bem-hajas, Elvira.


terça-feira, 11 de novembro de 2008

1896, Guerra Junqueiro, em " A Pátria"



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. ( ...) Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

domingo, 9 de novembro de 2008

E por vezes as noites duram meses...


E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos
E por vezes sorrimos ou choramos

E por vezes, por vezes, ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.


David Mourão-Ferreira

sábado, 8 de novembro de 2008

Da Serra ... com amizade...e alguma melancolia.

Não sei que lugarejo serrano é este mas sei que estou entre as minhas gentes. Depois de um dos muitos almoços no norte algarvio, ali quase na fronteira com o Alentejo, que tanto amo também, de retorno ao Canto do Melro, parei entre Montes Novos e Barranco do Velho, e tirei esta fotografia. Não está muito nítida mas gosto dela pelo que de agradável lhe anda associado. Dias de passeio em família, por entre montes e vales, ar puro com um aroma a eucalipto, pinheiro e rosmaninho,recordações de outros tempos em que os avós aqui vinham , por esta altura, apanhar azeitonas e aproveitavam para levar uns braçados de estevas para o lume, as longas noites ao borralho a ouvir o avô a ler a Cartilha Maternal de João de Deus, as adivinhas, algumas anedotas, poucas, e a leitura individual, neto a neto, aplaudida ou criticada com a doçura do avô.
Aqui ao lado, espreitam-me a escrita. Lá está ela de volta ao tema, agora fonte inesgotável de palavras. Que obsessão! Escreve isso, se é o que te apetece, mas, depois, não andes a lamuriar que não te lêem, não te deixam palavras de afecto, não tens os amigos que tinhas na blogosfera. Mas eu nunca disse isso! Fico pasmada com o que ouço mas já não estranho. É o costume!
Tu não vês que um blog não é para carpir tristezas todos os dias? Eu sei. Desculpem-me! Talvez seja a última vez que faço um post assim. Sei que tenho um grupo de amigos, daqueles que, apesar da distância, aqui têm estado de pé firme e não merecem, de todo, que eu os atormente com as minhas maleitas da alma que também afectam o corpo, este que tanto gosta de ser prestativo, bom ouvinte. Estou diferente. Pois estou! É uma verdade e até sei enumerar todas as situações que aqui me encurralaram. Espero que este beco tenha saída. Se eu mereço não sei mas não duvido, nem por um minuto, que a família e os meus amigos não merecem perder o tempo que este post leva a ser lido.
Bem-hajam!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Viagem


Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar…
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos).
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmentida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura…
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Miguel Torga

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

As Palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.


Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.


Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.


E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A Propósito de Estrelas



Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece
que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas

Adília Lopes


Biografia



Adília Lopes, poetisa, cronista e tradutora, é o pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, nascida em Lisboa a 20 de Abril de 1960. Tem vivido sempre nesta cidade e na mesma casa, habitada pela família da mãe desde 1916.
Concorreu em 1983 a um Prémio de Prosa da APE, para o qual um amigo lhe sugeriu o pseudónimo por que ficou conhecida, e enviou poemas para a editora Assírio & Alvim, que remeteu dois deles para o seu Anuário de Poetas não Publicados de 1984. Licenciou-se na Faculdade de Letras de Lisboa e publicou o seu primeiro livro de poemas em edição de autor, "Um jogo bastante perigoso" em 1985. O primeiro poema do livro evoca Esther Greenwood, a narradora de "Câmpanula de Vidro", um romance autobiográfico onde a poetisa norte-americana, Sylvia Plath, reflectiu a depressão profunda que a afectou.
Ao longo do curso, Adília Lopes publicou outros quatro livros de poesia, entre os quais "O Poeta de Pondichéry" em 1986 – a sua obra mais traduzida, baseada numa enigmática personagem de "Jacques le Fataliste", romance de Diderot e "O Decote da Dama de Espadas " em 1988, compilação de poemas redigidos entre 1983 e 1987, louvado por vários críticos.
Não escreveu no período de 1987 a 1991 e, de certa forma, inicia nesse ano um novo ciclo, novamente em edição de autor, com "Os 5 Livros de Versos Salvaram o Tio", 250 exemplares para distribuição gratuita. Recusado por seis editoras, tem na capa, simbolicamente, a data do primeiro livro - 1985.
Entre 1992 e 1997, publicou cinco livros de poesia e especializou-se em Ciências Documentais, em 1995, na Faculdade de Letras de Lisboa. Trabalhou nos espólios de Fernando Pessoa, Vitorino Nemésio e José Blanc de Portugal.
Em 2000 , foi publicado "Obra", reunião dos quinze livros de poesia de Adília Lopes, com ilustrações de Paula Rego. A pintora, surpreendida, havia encontrado nos poemas um impressionante paralelo com o seu próprio imaginário. Em resposta à cortesia, Adília traduziu para português Nursery Rhymes (Rimas de Berço), um álbum de gravuras de Paula Rego baseadas nas clássicas rimas infantis inglesas.
As principais influências literárias assumidas por Adília Lopes são Sophia de Mello Breyner Andresen e Ruy Belo, mas também a Condessa de Ségur, Emily Brönte, Enid Blyton, Roland Barthes ou Nuno Bragança.


( Extraído da net)

Miró
Ao centro, pintura de Paula Rego


Tenham um Boa Semana.

Beijos





domingo, 26 de outubro de 2008

Diospiros


Não gosto de diospiros, ou melhor, não gostava. Até ontem! Há poucos anos, talvez uns três ou quatro, tentei comer um diospiro, pela vigésima ou trigésima vez. Até vomitei o dito depois de ter insistido em comê-lo inteirinho. Nunca gostei da sua textura, demasiado mole, nem do seu sabor , quanto a mim, enjoativo. Até ontem!
A meio da tarde, a campainha soou. Eu estava nesta mesma sala, no mesmo canto onde agora vos escrevo. Levantei-me e fui ao portão. A uns trinta metros de distância. Uma vizinha, que teima em preservar , e bem, os costumes das gentes antigas vinha com um balaio cheiinho deles. De diospiros. Diferentes daqueles que costumo ver nos mercados. Mais maneirinhos mas nem por isso menos vermelhinhos. Agradeci-lhe com um sorriso largo, uns beijinhos, estive um pouco à conversa, ali mesmo ao portão. Não podia entrar, que tinha pressa, que tinha o carro mal estacionado. E assim partiu acrescentando: " No próximo fim -de-semana, trago uma tigela de marmelada. Acabadinha de fazer". É uma doce amiga! Lembra-se de mim ainda antes de eu ter nascido. Já cá há poucas!
Do portão até à porta da cozinha, que havia deixado entreaberta, encontrei os cães que nunca me deixam e dei-lhes um do frutos, partido em dois ainda que não equitativamente. E mais uma vez tentei saborear o dito , antevendo já um resultado pouco agradável. Mas, desta vez, pasmei. A experiência estava a ser diferente. A textura era a mesma, o sabor , esse, menos adocicado e não me deixou uma sensação estranha na boca, um arrepio, uma vontade de o rejeitar.
Hoje, ao pequeno-almoço, além do iogurte, dos cereais, da fatia de melão, e mesmo antes do café, já foram dois diospiros.
E que temos nós a ver com isso, dirão os que me lêem. Tendes razão mas apeteceu-me partilhar isto convosco. Desculpem a trivialidade.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Bom Fim de Semana!

Do Google
A todos que por aqui têm passado, agradeço as palavras perpassadas de carinho, de amizade, de simpatia...
Têm sido muito importantes para mim.
Bem-hajam!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Tenham uma boa semana!



Mar sonoro

Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho.
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.


Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 18 de outubro de 2008

sábado, 11 de outubro de 2008

Da Influência da Lua



Outono.
O sol, qual brigue em chamas, morre
Nos longes de água.... Ó tardes de novena!
Tardes de sonho em que a poesia escorre
E os bardos, a cismar, molham a pena!

Ao longe, os rios de águas prateadas
Por entre os verdes canaviais, esguios
São como estradas líquidas, e as estradas
Ao luar, parecem verdadeiros rios!

Os choupos nus, tremendo, arrepiadinhos
O xaile pedem a quem vai passando...
E os seus leitos nupciais, os ninhos
As lavandiscas noivas piando, piando!

O orvalho cai do céu como unguento.
Abrem as bocas, aparando-os, os goivos;
E a laranjeira, aos repelões do vento,
Deixa cair por terra a flor dos noivos.

E o orvalho cai...e a falta de água, rega
O vale sem fruto, a terra árida e nua!
E o Padre-Oceano, lá de longe, prega
O seu sermão de lágrimas à lua!


A Lua! Ela não tarda aí, espera!
O mágico poder que ela possui
Sobre as sementes, sobre o oceano impera,
Sobre as mulheres grávidas influi...


Ai os meus nervos, quando a lua é cheia!
Da arte novas concepções descubro
Todo me aflijo, lá fazem ideia...
Ai a ascensão da Lua em Outubro!

Tardes de Outubro! Ó tardes de novena

Outono! Mês de Maio, na Lareira! Tardes.....
Lá vem a Lua, gratiae plena
Do convento dos céus, a eterna freira!


António Nobre

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

«A Ti Regresso, Mar...»


A ti regresso, mar, ao gosto forte
Do sal que o vento traz à minha boca,
À tua claridade, a esta sorte
Que me foi dada de esquecer a morte
Sabendo embora como a vida é pouca.

A ti regresso, mar, corpo deitado,
Ao teu poder de paz e tempestade,
Ao teu clamor de deus acorrentado,
De terra feminina rodeado,
Prisioneiro da própria liberdade.

A ti regresso, mar, como quem sabe
Dessa tua lição tirar proveito.
E antes que esta vida se me acabe,
De toda a água que na terra cabe
Em vontade tornada, armado o peito.

José Saramago

domingo, 5 de outubro de 2008

A Cultura ficou Mais Pobre! E todos nós também!

Imagem retirada deste blog http://movimentum-blogando.blogspot.com/ numa homenagem a Che Guevara


RE-partindo

Sei que contigo vão partir
memórias de um tempo partilhado,
dias breves que hoje são passado
e podiam no entanto ser porvir.

Sei que levas na bagagem a lembrança
dos olhos nimbados de tristeza
mas também o brilho da bonança
que alimenta a tua natureza.


Mas se partes, apenas uma parte
vai contigo rasgando o mar e o vento:
que outra parte de ti já se reparte
na minha memória e pensamento.


24 de Agosto de 2008


FERNANDO PEIXOTO


Teatro da Solidão


É difícil estar só, com tanta gente
Que ao nosso lado aumenta a solidão!
Saber que estar só é ser diferente,
É ser apenas um na multidão!


É difícil sentir que, de repente,
Somos menos que um átomo: um neutrão,
Um fogacho de luz, um comburente
Do cosmos gigantesco em combustão.


Difícil é saber qual o papel
Que vamos na Vida interpretar
Na plateia que iremos enfrentar.
Buscamos no outro a sua pele,


Assumimos de um outro a dimensão
Pra ser o que não somos: Ilusão!


Setembro – Funchal 2006


FERNANDO PEIXOTO


Memóriade de Um Soldado que Veio da Guerra


Regressei à minha terra
vindo de Alcácer-Kibir.
Trouxe a memória da guerra
nesta forma de sentir
a morte por todo o lado
uivando como um coiote.


Trago a memória da morte
no sonho despedaçado.
Trouxe a memória dos gritos
dos corpos semi-desfeitos,
trago a memória dos mitos
de orgulhos e preconceitos.

Trouxe nos olhos poentes
e horizontes esfumados
dos jovens ludibriados
por mentiras indecentes.


Trouxe comigo a derrota,
a mentira, a cobardia
e a miséria que suporta
um resquício de agonia.


Trouxe a mágoa reflectida
no rosto de uma mulher
que já não sabe o que quer:
— se quer a morte ou a vida.


Trago a saudade no peito,
trago uma esperança adiada,
trago esta forma sem jeito
de saudar a madrugada
no filho que irá nascer
e nos teus braços dormir,
no cravo que hás-de parir
quando a Paz reverdecer.


Não veio comigo o Rei.
Em Alcácer nunca o vi
e no tempo em que lutei
nunca ao meu lado o senti.


Estava longe, parece,
longe de mim, da Verdade.
Longe de mim, na Cidade
o Rei jaz morto e apodrece.


Vendo bem, não trouxe nada
do muito que então levei.
Trouxe a memória pesada
da vergonha que encontrei
e que regressa comigo:
— o povo que conheci
e contra o qual me bati
não era um povo inimigo!


FERNANDO PEIXOTO




Fernando Peixoto, Mestre em História Moderna e Doutorado em História Contemporânea, dedicou a sua vida à História , ao Teatro e às Minorias Religiosas. Investigador da Fundação da Ciência e Tecnologia e do Gabinete de Estudos de História da Vitivinicultura Duriense (Faculdade de Letras da Universidade do Porto), acabou recentemente o seu doutoramento. Dramaturgo e encenador, leccionava História do Teatro na Escola Superior Artística do Porto e na Escola Superior de Educação do Porto. Tem várias obras publicadas nos domínios da História e do Teatro, além de uma vasta colaboração em revistas científicas portuguesas e estrangeiras, abarcando áreas diversas das Ciências Humanas.



Até Sempre, Fernando!



sábado, 4 de outubro de 2008

O teu presente para a Maria!


Se o dia me vai cansando
e me retira a bonança
eu renovo-me escutando
o riso de uma criança:
é melodia afastando
as nuvens da tempestade.
E um novo sol vai brilhando
num céu de felicidade!


Fernando Peixoto












Fernando Peixoto deixou-nos ontem. A Cultura Portuguesa ficou mais


pobre.



Obrigada, amigo! Até breve!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Quando



Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta

Continuará o jardim, o céu e o mar,

E como hoje igualmente hão-de bailar

As quatro estações à minha porta.




Outros em Abril passarão no pomar

Em que eu tantas vezes passei,

Haverá longos poentes sobre o mar,

Outros amarão as coisas que eu amei.




Será o mesmo brilho a mesma festa,

Será o mesmo jardim à minha porta.

E os cabelos doirados da floresta,

Como se eu não estivesse morta.




Sophia de Mello Breyner Andresen

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Amor Amado



Assim como os poentes
São rubros e as rosas,
Tão vivo é o meu amor por ti.
Com essa força atravesso
Todas as tempestades
E descubro em cada momento
A fonte da alegria.
No silêncio repito
O teu nome como um bálsamo
E sei que tu o meu repetes
como um apelo.
E o apelo não é vão
Pois com ele me dás as estradas
E os atalhos para chegar a ti.
Ao teu encontro vou
Com as rosas de Maio
Com as cerejas de Junho
Com as uvas de Setembro
E cada mês me dá para te levar
a sua novidade
Pois o amor faz novas todas as coisas.
Quando te não vejo vejo-te em todo o lado
E oiço-te em todas as vozes
Tu que és a única voz.
Em ti me refaço e me transformo
E fluo para ti como um grande rio
Na certeza de ti, que és o meu (a)mar.

Maria Teresa Dias Furtado

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Eu Quero Escrever um Poema



Eu quero escrever um poema

mas de poucas palavras disponho

Penso no Mar

Também no amor

Naturalmente na saudade

Acrescento a amizade

E não pode faltar o sonho




Com cinco palavras

Vou continuar

O poema que quero escrever

Para vos oferecer



Prossigo a viagem

Sem pensar em paragem

Não, não quero desistir

Tenho mesmo que insistir



Agora chega a palavra pai

Depois associo-lhe mãe

E continuo a caminhada

Devagarinho, entusiasmada



Chega o tio Manuel

Que me ofereceu um anel

Na verdade ofereceu dois

Pelo casamento , pois!



Os anos passaram

E chegou o fruto

Um menino, o produto

De um longa história

Que está na memória



E a viagem prossegue

Chega, enfim,

Embrulhada em esperança

Outra criança


Esta sempre será

A música ideal

Numa casa onde afinal

É cada vez mais

A estrela calma

que dá vida e alma

aos avós e aos pais


Sophiamar

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Palavras sentidas




Que nostalgia é esta
No início do Outono
Que me veste a alma
E me tira o sono?



Lágrimas gélidas
Impiedosamente caem
E os gritos da dor
Sufocados não saem

Habitando esta ruina
Desmoronada a cair
Enraizou-se a tristeza
Que ameaça não partir

Vai pranto meu
Abre a porta à esperança
Outrora tecida na madrugada
Em lençóis de doce fragrância
Agora tão desejada



Sophiamar

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Victor Jara, 35 anos de Saudade! O sonho continua!



Víctor Lidio Jara Martínez (Chileno, 28 de setembro de 1932 — 16 de setembro de 1973) músico, compositor, cantor e director de teatro chileno, deixou-nos há 35 anos.Nascido numa família de camponeses, tornou-se referência internacional da canção revolucionária.Foi assassinado barbaramente em 16 de setembro de 1973, na capital do Chile ( Santiago) nos primeiros dias de repressão que se seguiram ao golpe de estado de Augusto Pinochet contra o governo do presidente Salvador Allende, ocorrido em 11 de setembro daquele ano (Google).

domingo, 14 de setembro de 2008

Encerramento de blogues



Os blogues Leituras ao Serão e O Lugar da Poesia foram encerrados temporariamente. O Alfazema Azul talvez não regresse à blogosfera. Alguém disse que não se deve voltar ao lugar onde fomos felizes. Com alguma razão.
O meu muito obrigada pelas palavras que lá foram deixando. Esse carinho ficou registado. Estarei eternamente grata a quem, com honestidade, escreveu palavras que muito me sensibilizaram. Talvez um dia traga aqui as razões que levaram ao seu encerramento. Ou talvez não!
Creiam que continuarei AVer o Mar com a amizade e o carinho de sempre .

Bem hajam!

Mais um ano!

Acabaram, por agora, os dias no campo e , simultaneamente, os de praia. Setembro ainda está quente, por ora seco, a vida corre calma. Poucos meses antes, começara o seu interesse pela blogosfera e começou a fazer os primeiros amigos virtuais.Sentada na mesma mesa de sempre, junto da mesma janela, na sala onde faço amizades que julgo para a vida, recordo estes meses passados num meio onde as pessoas ainda mantêm laços de vizinhança à antiga. Pedem uma folha de louro, um ramo de coentros, uma cabeça de alhos, uns ovos emprestados. Agora chegou a hora de fazer as malas e retornar à cidade. Sinto saudades dos amigos. A amizade é o amor na sua expressão mais sublime, diz um amigo seu. A amizade é uma obsessão, uma necessidade, um pilar indispensável para que eu prossiga a minha caminhada. Foi nesta sala que fiz muitos amigos virtuais. Aproximámo-nos lentamente. Eu comentava eles retribuíam. O ar quente da manhã impregnado de aromas campestres entra pela janela, entreaberta,e recordo alguns que partiram, com lágrimas à mistura. É assim a saudade. A buganvília, testemunha silenciosa das minhas palavras, continua florida. A roseira também. Mas há mais flores. E quase todas represetam amigos. A rosa salmão é a mais importante. As dálias já não estão em flor. Nem as camélias. Levanto-me cedo todos os dias. Já não sou tão madrugadora mas gosto de sentir a brisa fresca da manhã, ouvir o canto dos pássaros, dos galos, as galinhas a cacarejar, os melros a piar e os passaritos a comer no prato de barro, sobre o poço, que comprei de propósito para eles. Com bebedouro e tudo. Foi aqui que todos os dias vim ao vosso encontro e só saía quando o sol, quente e luminoso, me chamava para a praia . Era quase um namoro tanto era o prazer do encontro e , depois, da conversa. E , assim, ao amanhecer marcavam o encontro do serão. E tudo tinha acontecido tão acidentalmente!E ficavam até perto das dez horas num diálogo quente, bem disposto, expondo pensamentos e opiniões. Em seguida, preparava-se e partia para a praia. Mas aqueles instantes da manhã eram maravilhosos. À noite, encontravam-se depois do jantar, conforme o combinado, e por lá fica vam mais um bocado. Nove de Agosto, foi noite de lua cheia e ela deitou-se tarde. Não é noctívaga mas ,nessa noite, saiu, olhou a lua e formulou três desejos. Têm seguido os trilhos que tão convictamente pediu.Se há momentos mágicos na vida, aquele era-o na sua. Na dele também. Tinha a certeza. Ela sentia-se a pairar, entre o céu e a terra, num espaço quase etéreo.Depois, com o Outono, aquela fase acabou e deu lugar a outra, em que, depois do almoço, ou a meio da tarde, não dispensavam o "café" tomado sem pressa, quase um passatempo em que aquele que primeiro o acabasse dava um beijo no outro, um abraço, uma carícia.Ela sempre acreditou na magia do amor. E acredita. E assim foram acontecendo encontros que deram lugar a uma grande cumplicidade, a uma partilha de sentires tão perfeita que a amizade criou raízes profundas. Quando o " encontra" sente uma vertigem percorrer-lhe o corpo, uma alegria que não tem palavras para a descrever.Indizível, mesmo! Ele é, para ela , uma fortaleza, inexpugnável, onde sente a protecção que tanto precisa.Costuma dizer que , quando fala com ele, vive um romance que depois passa para um diário. Esse , sim, talvez venha a ser, um dia, um romance escrito.E estava ela bem longe de imaginar que aquele amigo virtual, já real, viria a ser uma parte imprescindível da sua vida! Adora-o! Adorá-lo-á! Sempre!

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Nicolau Maquiavel



"Todos vêem o que pareces, poucos sentem o que és."
(Maquiavel)


Nicolau Maquiavel, filósofo político dos séculos XV/XVI, nasceu em Florença a 3 de Maiode 1469, e morreu em 20 de Junho de 1527.
Nada se sabe da sua vida antes de entrar ao serviço da República de Florença, após a queda do governo de Savonarola, para além de ser filho de um jurista. Serviu na administração da República de Florença, de 1498 a 1512, na segunda Chancelaria, como secretário do Conselho dos Dez da Guerra (Dieci di Libertà et Pace), a Instituição que na Signoria tratava da guerra e da diplomacia. Tornou-se um conhecedor profundo dos meandros políticos e viajou muito participando em vinte e três embaixadas a cortes italianas e outras onde conheceu dirigentes políticos como Luís XII de França, o Papa Júlio II, o Imperador Maximiliano I, César Bórgia...
Em 1500 foi enviado a França onde se encontrou com Luís XII e com o Cardeal de Orleães.Uma das suas missões mais importantes ocorreu em 1502 quando visitou César Bórgia estabelecido na Romagna, objecto de um relatório de 1503 intitulado «Descrição da Maneira empregue pelo Duque Valentino [César Bórgia] para Matar Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, Signor Pagolo e o Duque de Gravina, Orsini», no qual descreveu com uma precisão cirúrgica os assassinatos políticos do filho do Papa Alexandre VI, explicando, subrepticiamente, a arte política ao principal dirigente de Florença, o indeciso e timorato Pier Soderini.
Em 1504 viajou a França e, no regresso, inspirado nas suas leituras sobre a História Romana, apresentou um plano para a reorganização das forças militares de Florença, que foi aceite. Em 1508, foi enviado à corte do imperador Maximiliano, estabelecido em Bolzano, e em 1510 voltou, de novo, a França. Em 1509 dirigiu o pequeno exército miliciano de Florença para ajudar a libertar Pisa, missão que foi coroada de sucesso. Em Agosto de 1512, devido à invasão espanhola do território da república, a população depôs Sonderini e acolheu os Médici.
Maquiavel foi demitido em 7 de Novembro desse ano, devido à sua ligação ao governo republicano, retirando-se da vida pública. Em 1513,tendo-se tornado suspeito de envolvimento numa conspiração contra o novo governo, foi preso e torturado. Tirando algumas nomeações para postos temporários e sem importância, em que se conta em 1526 uma comissão do Papa Clemente VII para inspeccionar as muralhas de Florença, e do seu amigo Francesco Guicciardini, Comissário Papal da Guerra na Lombardia, que o empregou em duas pequenas missões diplomáticas, passou a dedicar-se à escrita, vivendo em San Casciano, a alguns quilómetros de Florença.
Em Maio de 1527, tendo os Médici sido expulsos de Florença, Maquiavel tentou reocupar o seu lugar na Chancelaria, mas o posto foi-lhe recusado devido à reputação que " O Príncipe" já tinha granjeado.
O Príncipe é um tratado político com uma conclusão que propõe a libertação da Itália das intervenções de franceses e de espanhóis, considerados bárbaros. Escrito originalmente em 1513 e dedicado a Giuliano de Médici, em 1516 passou a ser dedicado ao sobrinho deste, Lorenzo, antes deste se tornar duque de Urbino. Um livro cuja leitura recomendo.Ao serão e não só!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Nelson Évora trouxe-nos o sabor do Ouro. Parabéns, Nelson!



Nelson Évora nasceu na Costa do Marfim a 20 de Abril de 1984. Os pais são naturais de Cabo Verde e o atleta está naturalizado português . É especialista em triplo salto, embora também pratique salto em comprimento.
É um atleta de alto nível internacional que, actualmente, representa o Sport Lisboa e Benfica e que já representou Portugal em várias provas internacionais tendo sido campeão do mundo do triplo salto em 2007.
Em 2001, na primeira vez que competiu por Portugal, venceu a prova de salto em comprimento do FOJE (Festival Olímpico da Juventude Europeia) que teve lugar em Múrcia, Espanha.
Em 2003, venceu o salto em comprimento e o triplo-salto do Campeonato da Europa de Juniores que decorreu em Tampere na Finlândia.
Em 2004, conquistou a medalha de bronze no triplo-salto no Campeonato da Europa Sub-23 que teve lugar em Erfurt na Alemanha.
Participou em Atenas nos Jogos Olímpicos de 2004 no triplo salto, tendo falhado a qualificação para a final.
Em 2005 participou no Campeonato do Mundo de Atletismo ao Ar Livre em Helsínquia falhando a qualificação para a final por poucos centímetros ao ser 14.º nas eliminatórias quando apenas os 12 primeiros garantiam um lugar na final.
Em 2006 participou no Campeonato do Mundo em Pista Coberta em Moscovo onde alcançou um lugar na final do triplo-salto onde acabaria no sexto lugar.
No Campeonato Europeu de Atletismo ao Ar Livre em Gotemburgo acabou em quarto lugar no triplo-salto tendo-se lesionado logo depois do primeiro salto, não podendo lutar pelas medalhas com a marca de 17,07 metros e em sexto no salto em comprimento com a marca de 7,91 metros.
Em 2007 participou no Campeonato Europeu de Atletismo em Pista Coberta em Birmingham no triplo salto no qual obteve o 5.º lugar depois de se ter lesionado no primeiro salto e que não possibilitou que efectuasse os restantes nas melhores condições físicas.
Participou nos Mundiais de Osaka nos quais se sagrou campeão do Mundo de triplo salto com uma marca de 17,74m (segunda melhor marca mundial do ano) e também recorde nacional .
Finalmente em 2008 , Nélson Évora torna-se o 4.º atleta português a trazer uma medalha de ouro para Portugal, desta vez no Triplo-Salto, sendo assim Campeão Olímpico, e tornando-se a segunda medalha portuguesa nos Jogos Olímpicos de Pequim.



PARABÉNS, CAMPEÃO!



terça-feira, 19 de agosto de 2008

A Las Cinco de la Tarde



A las cinco de la tarde.
Eran las cinco en punto de la tarde.
Un niño trajo la blanca sábana
a las cinco de la tarde.
Una espuerta de cal ya prevenida
a las cinco de la tarde.
Lo demás era muerte y sólo muerte
a las cinco de la tarde.


El viento se llevó los algodones
a las cinco de la tarde.
Y el óxido sembró cristal y níquel
a las cinco de la tarde.
Ya luchan la paloma y el leopardo
a las cinco de la tarde.
Y un muslo con un asta desolada
a las cinco de la tarde.
Comenzaron los sones de bordón
a las cinco de la tarde.
Las campanas de arsénico y el humo
a las cinco de la tarde.
En las esquinas grupos de silencio
a las cinco de la tarde.
¡Y el toro solo corazón arriba!
a las cinco de la tarde.
Cuando el sudor de nieve fue llegando
a las cinco de la tarde
cuando la plaza se cubrió de yodo
a las cinco de la tarde,
la muerte puso huevos en la herida
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.
A las cinco en Punto de la tarde.


Un ataúd con ruedas es la cama
a las cinco de la tarde.
Huesos y flautas suenan en su oído
a las cinco de la tarde.
El toro ya mugía por su frente
a las cinco de la tarde.
El cuarto se irisaba de agonía
a las cinco de la tarde.
A lo lejos ya viene la gangrena
a las cinco de la tarde.
Trompa de lirio por las verdes ingles
a las cinco de la tarde.
Las heridas quemaban como soles
a las cinco de la tarde,
y el gentío rompía las ventanas
a las cinco de la tarde.
A las cinco de la tarde.¡
Ay, qué terribles cinco de la tarde!¡
Eran las cinco en todos los relojes!¡
Eran las cinco en sombra de la tarde!


Federico García Lorca



Nasceu numa pequena localidade da Andaluzia,Fuente Vaqueros, a 5 de junho de 1898 e foi assassinado em Granada a 19 de agosto de 1936. Poeta e dramaturgo espanhol foi uma das primeiras vítimas da Guerra Civil Espanhola. García Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914 e cinco anos depois transfere-se para Madrid onde ficou amigo de artistas como Luis Buñuel e Salvador Dali . Aqui publicou seus primeiros poemas.
Grande parte dos seus primeiros trabalhos baseiam-se em temas relativos à Andaluzia (Impressões e Paisagens, 1918), à música e ao folclore regionais (Poemas do Canto Fundo, 1921-1922) e aos ciganos (Romancero Gitano, 1928).
Concluído o curso, foi para os Estados Unidos e para Cuba, período dos seus poemas surrealistas, manifestando desprezo pelo modus vivendi dos norte- americanos. Expressou o seu horror com a brutalidade da civilização mecanizada nas chocantes imagens de Poeta em Nova Iorque, publicado em 1940.
Voltando à Espanha, criou um grupo de teatro chamado La Barraca. Não ocultava as suas ideias socialistas e foi certamente um dos alvos mais visados pelo conservadorismo espanhol que, sob forte influência católica, ensaiava a tomada do poder, dando início a uma das mais sangrentas guerras fratricidas do século XX.
Intimidado, Lorca retornou para Granada, na Andaluzia, na esperança de encontrar um refúgio. Ali, porém, teve a sua prisão determinada por um deputado católico, sob o argumento (que tornou-se célebre) de que ele seria "mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver".
Assim, no dia 19 de agosto de 1936, sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, e o seu corpo foi jogado num ponto da Serra Nevada. A caneta calava -se mas a Poesia nascia para a eternidade. O crime teve repercussão em todo o mundo, despertando por todas as partes um sentimento de que o que ocorria na Espanha dizia respeito a todo o planeta... foi um prenúncio da Segunda Guerra Mundial.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

A Feira Medieval de Silves

Acampamento na Praça Al’Muthamid junto ao Arade


Quem chega a Silves, vindo do Sotavento, quer pela via do Infante quer por Alcantarilha fica deslumbrado com a paisagem que avista antes mesmo de passar a ponte sobre o Arade.
A cidade localiza-se num vale onde abundam os laranjais e é dominada pelo castelo, que data sobretudo do tempo da ocupação dos mouros no século VIII. Silves prosperou sob o domínio muçulmano, tendo-se tornado, sob o nome de Chelb, uma das cidades mais importantes da Península Ibérica até ser conquistada pelos cavaleiros da Ordem de Santiago, em 1242.
Das torres do castelo, avista-se uma paisagem deslumbrante.Todos os montes em redor, e são muitos, estão cobertos de oliveiras, alfarrobeiras, azinheiras, amendoeiras...
Neste momento, está a decorrer desde o dia 9 de Agosto e prolongar-se-á até ao dia 17, a Feira Medieval de Silves. A partir das 18.00h e até à 1.oo h da madrugada, há música, muita música e muito boa, teatro, comes e bebes, venda de produtos agrícolas e artesanais num ambiente que nos leva a viajar até aos séculos XII/ XIII.
As reconstituições históricas estão a tornar-se, cada vez mais, um evento cultural do Verão e um pouco por todo o país, de Norte a Sul, encontramos reconstituições quase perfeitas daquilo que foram as feiras medievais. A Feira Medieval de Silves tornou-se um evento imperdível para quem vive no Algarve e para quem escolhe o Sul como destino de férias.Pode-se comprar o mel de rosmaninho, orégãos, poejos, louro, tomilho, figos, peças de barro, sapatos, vestuário, bijuteria, pratos, tapetese lanternas de Marrocos e muito,muito mais em tendas semelhantes às que os artesãos medievais utilizavam para vender os seus produtos. Enquanto passeamos, vemo-los ocupados na sua arte. O teatro não falta e pode-se assistir à recriação de eventos históricos da época medieval como os torneios ou a conquista da cidade por D. Paio Peres Correia.
Outra imagem do acampamento

As feiras eram importantes locais de comércio e divertimento para quem vivia nos concelhos rurais e até mesmo nos urbanos.Estavam presentes os saltimbancos,malabaristas, animais amestrados, jograis, bailarinas...É esse vigor que está patente quando se visita esta feira algarvia. Encontramos regatões, camponeses, artesãos,almocreves, mendigos...



Cortejo que marca a abertura da Feira


Muitos eram os motivos que levavam as pessoas à feira. Ia-se para comprar,vender, conviver, receber notícias de outras povoações,marcar casamentos, enviar notícias...
As feiras medievais representaram o momento no qual ressurge o comércio na Europa, no final do século XI, quando esta saía do feudalismo, no qual as pessoas viviam em territórios limitados,onde produziam tudo o que precisavam, sendo que quando algo faltava, conseguiam-no através de trocas.


Mendigo, muito bem caracterizado, junto da porta que dá acesso Museu de Silves. Uma visita a não perder.

No entanto, as Cruzadas reabriram o caminho pelo mar Mediterrâneo e possibilitaram aos Europeus um maior contacto com o Oriente, de onde traziam mercadorias raras e exóticas (cravo, canela, pimenta, seda, porcelana), muito cobiçadas no Velho Continente
Músicos

Durante a realização das feiras interrompiam-se guerras, a paz era garantida para que os vendedores, dispostos lado-a-lado, pudessem trabalhar com segurança. Da mesma maneira, os guardas vigiavam todo o perímetro de modo a evitar que algum desordeiro pudesse causar incómodos àqueles que por ali passavam e desejavam efectuar suas compras.
Os fidalgos de visita à feira

Ao começo da noite a feira enchia


Um grupo castelhano que contagiou o público assistente com a sua alegria

Veja Aqui e saiba mais.



E agora Só lhe falta mesmo ir a Silves. Vai gostar!