O espólio de Sophia de Mello Breyner Andresen será hoje oficialmente doado pela família da escritora à Biblioteca Nacional, em Lisboa.
Maria Andresen, filha da poeta, descreveu o espólio, dizendo que são cartas, cadernos com alguns dos primeiros esboços de poemas, agendas, diários, desenhos e recortes de jornais.
O material esteve guardado no Centro Nacional de Cultura, onde foi analisado pela filha de Sophia e Manuela Vasconcelos.
Depois do acto oficial de doação - uma vez que o material está na Biblioteca desde Novembro - será inaugurada uma exposição com material do espólio, intitulada «Sophia de Mello Breyner Andresen - Uma Vida de Poeta».
Excerto de um texto recentemente recuperado:
Maria Andresen, filha da poeta, descreveu o espólio, dizendo que são cartas, cadernos com alguns dos primeiros esboços de poemas, agendas, diários, desenhos e recortes de jornais.
O material esteve guardado no Centro Nacional de Cultura, onde foi analisado pela filha de Sophia e Manuela Vasconcelos.
Depois do acto oficial de doação - uma vez que o material está na Biblioteca desde Novembro - será inaugurada uma exposição com material do espólio, intitulada «Sophia de Mello Breyner Andresen - Uma Vida de Poeta».
Excerto de um texto recentemente recuperado:
"Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e Junho. Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite.
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quasi palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.
Como sempre a noite de vento leste misturava extasi e pânico."
O poema referido está intitulado «Primeira noite de Verão». No fim da folha, à direita, está a indicação «Porto, 9-V-1934».
O poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quasi palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.
Como sempre a noite de vento leste misturava extasi e pânico."
O poema referido está intitulado «Primeira noite de Verão». No fim da folha, à direita, está a indicação «Porto, 9-V-1934».
O poema
O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê
O poema alguém o dirá
Às searas
Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento
O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento
No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)
Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas
E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen
7 comentários:
Isabel,
Como é bom voltar a este teu sítio e encontrar a "nossa" Sophia que também amava tanto o mar. A Sophia que sempre homenageaste e trouxeste para este teu espaço.
Obrigada pela partilha
Branca
É a certeza da preservação de um espólio ímpar da cultura portuguesa.
Sou admiradora de Sophia, não só pela sua poesia mas também pela mulher que era. Já dei aulas na escola com o mesmo nome e curiosamente lá respirava-se Sophia.
Bjs
É bom ler-te novamente.
E a poesia sabe sempre bem...
Beijos.
Magnífica Sophia ... sempre !
é sempre "delicioso" ler e sentir esats palavras de sophia...
bem-hajs, querida amiga
beijinhosssssssss milesssssssss
... também muito bela a tua homenagem a Sophia!
Uma partilha mútua que só nos enriquece ao trazer de volta poesia tão sublime!
Um beijo fraterno
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