quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Quando



Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta

Continuará o jardim, o céu e o mar,

E como hoje igualmente hão-de bailar

As quatro estações à minha porta.




Outros em Abril passarão no pomar

Em que eu tantas vezes passei,

Haverá longos poentes sobre o mar,

Outros amarão as coisas que eu amei.




Será o mesmo brilho a mesma festa,

Será o mesmo jardim à minha porta.

E os cabelos doirados da floresta,

Como se eu não estivesse morta.




Sophia de Mello Breyner Andresen

26 comentários:

João Roque disse...

Mas porque razão Sophia nunca cansa???

MPS disse...

Cara Isabel

A constatação de que nada somos perante a dimensão do belo. A beleza não existe para nós; existe simplesmente, e indiferente a quem com ela se comove. Sempre haverá alguém a prestar-lhe tributo. Somos o efémero perante o intemporal.

Este é dos mais arrepiantes poemas de Sophia. Belo, à semelhança das belezas nele descritas.

Um abraço

Elvira Carvalho disse...

Todos sabemos que é assim. Mas porquê a escolha desse poema com outros tão belos que a Sophia tem?
Está triste? Olhe deixo-lhe esta lembrança. Espero que goste.


COISAS DE MÃE


Se os filhos estão bem alimentados,
É ela que se sente satisfeita.
Se estão risonhos e felizes,
É ela que se pega sorrindo também.
Se estão de roupinha nova,
É ela que se sente bonita.
Se eles vão bem na escola,
Parece que o aproveitamento escolar é dela.
Se arranjam novos amigos,
É ela que se sente popular e querida.
Se viajam para novos lugares,
É ela que curte o passeio, mesmo ficando em casa.
A cada meta que atingem ou troféu que ganham,
É ela que curte a sensação de vitória.
Passa a gostar de rock,
Mesmo que antes não pudesse nem ouvir.
Passa a olhar com simpatia,
Os ídolos e os amores de seus filhos.
Passa a adorar cachorros,
Mesmo que antes só gostasse de gatos.
Desnecessário dizer o que ela sente,
Quando alguma coisa dá errado, porque, por tabela,
Ela sentirá em dose tripla,
Cada tombo,
Cada perda,
Cada rejeição,
Cada fracasso,
Cada desapontamento.
Tudo isto são...coisas de mãe !

Fátima Irene Pinto

Um abraço

meus instantes e momentos disse...

ótimo voltar aqui, lindo teu blog. Tudo muito bom.
Maurizio

o escriba disse...

Isabel

Amiga, deduzi por alguns comentários que não estás bem de saúde. Se assim for desejo sentidamente as tuas melhoras!

As palavras da Sophia entram-nos sempre pelo coração adentro.

bjinhos
Esperança

Papoila disse...

Querida Amiga:
Sophia é sempre um encanto de ler.
Estás "daderjada" e "selada" lá no campo.
Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Sophiamar
Efectivamente a finitude ensombra o pensamento que pretende retratar em vida este acabar de percurso.
Sophia de Mello Breyner sabe falar destas emoções e destas nostalgias, deste tempo sem tempo que permanece em nós com as recordações.
Beijos

SILÊNCIO CULPADO disse...

Sophiamar
Senti-te triste, amiga.Não estejas, apesar de Outono a Primavera virá e nós somos com o bambu, o vento verga mas nós voltamos à posição erecta.
Somos da geração que ainda funciona assim.
Abraço apertado.

CNS disse...

Sempre Sophia-mar-lua-horizonte. Obrigada.

Anónimo disse...

Gostei da escolha. Passei para te dar um Kiss

Peter Pan disse...

Fantástica Amiga:
Perfeita escolha feita por uma pessoa perfeita.
Que lindo. Doce, o que escreve.
Fiquei a pensar se estava a sonhar.
Quanta beleza e ternura jorra do seu sentir encantador.
"...Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta.
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta..."

Sem palavras por não conseguir expressar nada, mesmo nada.
Fiquei deslumbrado e maravilhado.
Beijinhos de imenso respeito, encanto e consideração imensas.
Sempre a lê-la e relê-la eternamente

p.pan

OBRIGADO por este instante maravilhoso de poesia adorável e sentida.Deslumbra Amiga, sabe?

Delfim Peixoto disse...

Dos mais bonitos que lhe li... ( pena o filho não ter a mesma sensibilidade)

Gilbamar disse...

Um blog que encanta e cativa com seus belos textos e lindas fotos. Também estarei a Ver o Mar muitas e muitas vezes.

Grande abraço fraterno.

Manuel Veiga disse...

bela Sophia!

importa por isso colher "os longos poentes"...

beijos

jo ra tone disse...

Cara Isabel,
A boa semente para continuar a dar bom fruto, tem que morrer (apodrecer) em terra fértil.È muito natural.
Isto acontece também com os humanos.E os frutos sõ certamente as boas obras.
Beijnhos

Cleo disse...

Maravilhoso este blog. estou levando o link. e quanto ao poema postado, me faz pensar muito a frase: " outros amarão as coisas que eu amei." então isso quer dizer que devemos viver intensamente, sempre, o hoje, e não deixar nada prá depois.
assim vivo. magicamente.
beijos e bela sexta-feira.
Cleo

Filoxera disse...

Esta água, estas flores e este cabelo a emoldurarem esta morte remetem-me para a Ofélia do Hamlet.
Beijos.

Graça Pires disse...

Magnífico poema da Sophia.
Um beijo e bom fim de semana.

C Valente disse...

lindo
saudações amigas

Agulheta disse...

Olá amiga. Pois Sophia nunca cansa os olhos de quem lê.
Beijinho e bfs

Zé Povinho disse...

Somos insignificantes perante a natureza que nos rodeia, mas sempre importantes para quem nos respeita e de nós gosta.
Bom fim de semana
Abraço do Zé

Elvira Carvalho disse...

Passei para deixar um abraço e desejar um bom fim de semana.

ASPÁSIA disse...

UM DOS MAIS PROFUNDOS POEMAS DE SOPHIA... QUE NÃO MORREU POIS AQUI CONTINUA ENTRE NÓS!

PELO FACTO DE CADA SER EXISTIR, HÁ UMA SINGULARIDADE NO UNIVERSO! ALGO DE IRREPETÍVEL...MESMO SE FOREM GÉMEOS VERDADEIROS, CADA UM DELES É ÚNICO!

BEIJINHO UNIVERSAL!

Ana disse...

"Será o mesmo brilho, a mesma festa"

A certeza de que o mundo permanecerá. Foi bom ver Sophia de volta, aqui no teu espaço. Ela também permanece viva naqueles que amam a sua poesia.
Um beijo, amiga.

Branca disse...

Nem de propósito Isabel encontro aqui este poema de Sophia, quando te venho dar a triste notícia do falecimento de outro grande poeta, nosso amigo, de quem sei que muito gostavas, Fernando Peixoto. Neste momento está a proceder-se à sua icineração no Prado do Repouso, no Porto.
Passa por http://todomundoeumpalco.blogspot.com/ e pelo sítio que já conheces.
Um beijo grande
Branca

gaivota disse...

sempre lindo, a voz nas mãos de sophia, ainda que num poema bem triste!
linda homenagem, isabel
beijinhos grandessssssssssss