"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta. ( ...) Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas. Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."
15 comentários:
Diga-se de grande actualidade, excelente.
Bom S. Martinho amiga. Que as castanhitas são tão boas.
Guerra Junqueira morreria de raiva se cá voltasse. Porque ia chegar à conclusão que isto ainda está pior agora do que no tempo em que ele escreveu este texto.
Hoje também a assinalar os 90 anos do fim da primeira guerra mundial.
Um abraço grande recheado de beijinhos.
Cara amiga...Exvelente...
Beijos
Como diz o meu adolescente filho "é bué d'actual..."
Beijinhos e descaradamente, aproveito para pedir uma palavrinha de incentivo à Anamarta?....
guerra junqueiro sempre em dia, e com mais presença ainda neste circo de vida...
beijinhos grandesssssssssssss
Boa! A parte da catalepsia ambulante, então, está demais! Actual, perfeitamente actual.
Beijos.
Que publicação mais que pertinente. Leitura mais que necessária para muita gente diante da realidade que estamos nela.
Cadinho RoCo
Que mudou de 1896 para cá? O Limoeiro e o poder moderador. Sim senhor, não podemos dizer que não progredimos!
Sabe-me sempre muito bem reler Guerra Junqueiro. Muito obrigada.
Um abraço
Isabel
Querida Amiga, a actualidade deste post faz-nos pensar que 212 anos não nos fizeram velhos com mais sabedoria.
Gostei muito!
bjinhos
Esperança
excelente e oportuno texto...
sempre da melhor qualidade os teus posts...
beijos
Querida Sophiamar
Acabou de receber o prémio Dardos.
Agora é só cumprir as regras. Quem recebe o “Prémio Dardos” e o aceita deve:
1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogs a que entregar o Prémio Dardos.
Bjinhos
Um grande Transmontano, nascido em Ligares, Freixo de Espada à Cinta.
O que diria ele hoje do estado actual da nossa situação politica? Seria muito interessante.
Estamos a precisar ge muitos "Guerra Junqueiro".
Obrigada Isabel
O sorriso que ofereceres, a ti voltará outra vez
Autor: Guerra Junqueiro , Abílio
Guerra Jubqueiro rescussitou???
Beijinhos.
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