domingo, 16 de novembro de 2008

Dar de Vaia

da net
Nem uma nuvem macula o céu da minha aldeia serrana. Rodeada de verde, de pardalitos laboriosos que debicam aqui e ali, ouvindo os espanta-espíritos dependurados no beiral do alpendre, tocados por uma leve brisa, apeteceu-me dar-vos de vaia. Deambulando entre o mar e a serra, tento arranjar o antigo vigor que me caracterizava. Se por um lado me tenho sentido sem vontade de escrever por outro é importante aproveitar estes momentos que vêm contrariar a abulia dos últimos meses. Por isso aqui estou. E muitos têm sido os amigos que por mail, através de comentários e telefonemas me têm feito sentir que este lado virtual, distante, não é tanto assim.Existe, é verdadeiro,há quem esteja atento aos sinais de alarme. Bem-hajam aqueles que me fizeram chegar as suas palavras de conforto e amizade.
Apetecia-me ficar aqui à conversa, contar-vos como têm sido os últimos meses mas não é para isso que aqui estou. E quero falar-vos de outras coisas a curto prazo. A memória elefantina que possuo ( sou,nesse aspecto, uma privilegiada) permitir-me-ia ficar a escrever horas a fio dos costumes deste sítio serrano onde me abrigo ao fim-de-semana mas,neste momento, o talento também se escoou.Se alguma vez o tive! Há uns anos, gozava o silêncio do campo, punha as leituras em dia, dormitava,dava um passeio pelas veredas e carreiros que me levavam ao Ribeiro da Serra, à Fonte Férrea, ao Moinho de Vento e no regresso tinha um almoço ou um jantar daqueles que nos fazem crescer água na boca.
Agora vou ficando por aqui, faço uma pequena jardinagem porque há quem faça a maior, olho a azinheira centenária plantada pelo bisavô e, de repente, lembro-me que a minha mãe faria anos hoje. Cresci debaixo de uma das suas asas. A outra abrigava toda a família. Uma verdadeira matriarca! Ainda não me recompus da sua perda. Não me recomporei mas a saudade vai atenuando com a chegada dos netos. A primeira, a única por enquanto, é a menina dos meus olhos. Os dela têm a cor da serra e do mar e aposto convosco que há-de gostar tanto das gentes serranas quanto gostam os avós e o pai. Quanto gostaram os seus ascendentes. Gente de boa cepa, rija como a terra o exige, que prefere quebrar a torcer.

42 comentários:

João Roque disse...

Que belo, este "regresso às origens"; soubeste com as tuas palavras fazer-nos transportar à pureza dos ares rurais e à recordação e vivência de entes queridos; apteceu-me "dar de vaia"...
Beijinhos.

lena disse...

ainda há pouco de li, num poema de Cecília e era hoje domingo, agora vejo outra partilha tua de sábado.

devo andar baralhada, ou já não sei como passam os dias

gostei deste dar de vaia...

recordações tuas, nostalgia e a princesa dos teus olhos!


bom ler-te, bom estar, bom sentir-te.

já não sei se sei escrever, a inspiração existe, não existe é o resto...

abraço-te com ternura, com o mesmo carinho, num abraço que nos pertence

lena

anamarta disse...

Passei por aqui para te deixar um beijo de amizade, carinho e gratidão pelo teu apoio.
E como sempre gostei do que li.
Ana

o escriba disse...

Isabel

Querida Amiga, folgo muito em ver que aos poucos te vais recuperando. Deste-nos de vaia e isso é muito bom.
As perdas que temos ficam aconchegadas no nosso coração. Nunca são substituídas. Também as tenho. Sei o que é. Saber conviver com elas é que nos dá força e os que partiram ficam satisfeitos.

bjinhos grandes
Esperança

Anónimo disse...

Para que a memória perdure... Kiss

Filoxera disse...

É assim a vida, amiga.
Também não e recompurei da perda do meu pai, que, como sabes, até começou muito antes da sua morte.
Mas pior aibda é a perda dos que partem demasiado cedo. Hoje, tive de enfrentar os meus receios e dizer ao meu padrinho que sairá no Escrito a Quente um post sobre o Vasco, o filho que ele perdeu, dias antes de completar dez anos. E a falta que ele me faz!...
Beijos.

Elvira Carvalho disse...

Que bom amiga, que surpresa, este post tão bonito a falar das lembranças mas sem aquela tristeza dos últimos tempos. Gostei mesmo, vê como é fácil? Até parece que estava aí a vê-la...
Um abraço muito muito amigo.
E votos de uma boa semana

avelaneiraflorida disse...

Querida SOPHIAMAR,

por vezes é preciso regressar lá atrás, ao mais fundo de nós, das nossas memórias...
Assim se renasce!!!!
Força, para cada dia, para cada momento!!!!
E, ainda, que menos visível, estou aqui!!! Sabes onde estou!!!!
Bjkas!!!!

gaivota disse...

andar para trás no tempo, mexer nos baús das memórias, sentir outras gentes que vivem cá dentro e nos fazem dar de vaia...
mas saber viver na recordação e com as perdas, às vezes não é fácil, nunca!
beijinhos grandesssssssss

Manuel Veiga disse...

gostei muito de ler. e saber da tua cepa...

beijos

Anónimo disse...

Muito bom como sempre... ;-)

Teresa Durães disse...

um regresso à terra encantador

hfm disse...

sempre bom ler-te, sempre bom ouvir o eco das tuas palavras.

lagartinha disse...

Como escreve bem!
E como descreve ainda melhor!
Um beijinho grande

J. Stocker disse...

Isabel

Mau tempo, Bom tempo, são ciclicos e infelizmente temos que viver com eles, mas é sempre menos difícil, quando sentimos a preocupação dos amigos por nós.
Felizmente que a Isabel tem muitos, como temos vistos pelas manifestações de carinho e apoio aqui deixadas. Muitas delas são muito suaves, para não a obrigarem a reagir fora de tempo, mas sentem-se.

Bem hajam os que são amigos dos seus amigos

Um abraço

Graça Pires disse...

É tão bom quando regressas às tuas memórias e as partilhas connosco.
Obrigada. Um beijo.

Papoila disse...

Olá
Saí da "clausura" por um instante e vim ler este belíssimo texto que nos conta aa tuas recordações de infância dessa serra que tanto amas ligada às recordações de quem te foi querido e está sempre presente. Gostei muito deste teu "dar de vaia".
Beijos

Tiago R Cardoso disse...

Para já talento não te falta, nota-se em cada frase.

Depois o regresso à "terra" é muitas vezes aquilo que nos safa do peso da sociedade.

Eu fujo para o campo, ali regresso ás origens ao que devia ser o mundo.

Entretanto a vida continua, temos de a viver e de a saber viver.

Força.

Agulheta disse...

Querida amiga. Com este (dar de vaia) sempre aqui estarei para te dizer um olá e deixar um carinho,como sempre disse nem tudo aqui é mau,eu tenho a prova disso.Foi bom voltares as origens,e guardares bem no peito a lembrança.
Beijinho e boa continuação

António Inglês disse...

Que bom, estás de volta!
Olha uma vez mais para essa azinheira e repara se não encontras lá uns olhos repousando fixados em ti? São os nossos! Daqueles que sempre estiveram de olho em ti!!!
Regresso feliz por te reencontrar.
Um grande, grande beijinho que repartirás coma linda princesa algarvia que faz as delicias dos pais e dos avós.
António

Dona Sra. Urtigão disse...

Muito prazer em te conhecer.

Fernando Santos (Chana) disse...

Cara amiga, muito bom estares de volta...
Beijos

José Lopes disse...

Porque as memórias nos dão retratos muito bons das pessoas que as partilham, gosto sempre de ler.
Tudo de bom.
Cumps

Ana disse...

"Dar de vaia" é uma expressão que não conhecia. Mais uma coisa que me ensinas, Isabel.
O que existe aqui não é virtual. As afinidades são reais, os gostos partilham-se, a amizade constrói-se. Apenas falta o olhar, mas isso que interessa perante outros valores que se geram?
Deixo-te um abraço , Isabel, com muito carinho.

São disse...

Agradecendo o tempo agradável que me tens oferecido, aqui te ofereço um poeta que aprecio imenso e que considero um dos nossos melhores: Miguel Torga!


SUGESTÃO
O mar é grande por não ter sentido
Por ser um verso azul feito de espuma,
E de fúria e de bruma,
E nunca se cansar dentro do ouvido.


Um abraço.

Peter Pan disse...

Maravilhosa Amiga:
Mais um texto fabuloso e belo.
Mais uma atitude perfeita numa pessoa terna/perfeita.
Fico com o "som" melodioso do seu extraordinário e fantástico "sentir".
"...Agora vou ficando por aqui, faço uma pequena jardinagem porque há quem faça a maior, olho a azinheira centenária plantada pelo bisavô e, de repente, lembro-me que a minha mãe faria anos hoje. Cresci debaixo de uma das suas asas. A outra abrigava toda a família. Uma verdadeira matriarca! Ainda não me recompus da sua perda. Não me recomporei mas a saudade vai atenuando com a chegada dos netos. A primeira, a única por enquanto, é a menina dos meus olhos. Os dela têm a cor da serra e do mar e aposto convosco que há-de gostar tanto das gentes serranas quanto gostam os avós e o pai. Quanto gostaram os seus ascendentes. Gente de boa cepa, rija como a terra o exige, que prefere quebrar a torcer..."

Só o seu poderoso talento e genialidade de beleza e pureza poderiam "construir" um Post tão doce e fantástico.
Adorei! Deslumbrante e sublime!
Beijinhos de imenso respeito, amiguinha linda.
Sempre a estimá-la cada vez mais.
Maravilhado...

peter pan

OBRIGADO por existir porque encanta e enternece.
Toda a felicidade e alegria do "Mundo"...Inteiro! Sim!...

aviam disse...

Muito bom o seu texto adorei o seu blog, parabéns escreve com brilho.

ASPÁSIA disse...

ISABELITA

UM TEXTO CHEIO DA TERNURA QUE TE É CARACTER+ISTICA E AINDA QUE DIGAS QUE ANDAS SEM FORÇAS, NELE AINDA ESTÁ MUITA FORÇA CONTIDA!
A MEMÓRIA DE TUA MÃE TAMBÉM TE DEVE AJUDAR A RECUPERARES-TE. ELA NÃO GOSTARIA DE TE VER TRISTONHA PELOS CANTOS DO "CANTO DO MELRO"!
A MARIA DENTRO EM POUCO VAI COMEÇAR A "METER-TE MAIS NA ORDEM", VAIS VER, A PUXAR POR TI PARA AS BRINCADEIRAS! NÃO A DEIXES FICAR MAL...

FICA UM BEIJINHO DADO DE VAIA... E DE CORAÇÃO!

ausenda hilário disse...

E esse dar de vaia, que me é tão familiar.
Dar de vaia à serra e ao mar...
e porque não interiorizar todos os sentidos e continuar...!

Beijos

Joaquim Amândio Santos disse...

o propalado princípio da certeza mais não é do que a míngua do desejar.

da inconstância nasce a quebra de fronteiras castradoras.

Na ousadia cresce o pulsar pleno do acreditar!

lagartinha disse...

Passei para desejar um óptimo fim de semana
Bejoca

José Lopes disse...

Breve passagem para desejar um bfds
Cumps

Daniel Aladiah disse...

Querida Isabel
Tens assim tantas histórias... e o Inverno à lareira...
Um beijo
Daniel

Anónimo disse...

No conforto e bem estar das origens, aqui partilhadas, que imenso prazer me dão.
Fica bem, tudo de bom.

zef disse...

Sophiamar, há que tempo não prozava neste mar! E gosto deste dar de vaia!
Um abraço

Tony Madureira disse...

Olá,

Há lugares maravilhosos, e sses lugares são onde nos sentimos bem.

Bom fim de semana e beijinhos.

Tiago R Cardoso disse...

desaparecestes ou ainda andas pelo campos?

em breve serei eu a ir...

a d´almeida nunes disse...

Vim aqui para desligar o computador, que o tem estado desde o meio da manhã de hoje.
Deparei com este belo texto, cheio de poesia, saudade ternura pelos netos que aí vêm.
Coincidências. Hoje tenho tido o dia ocupado com os meus dois netos: a Mafalda e o Guilherme, 13 e 10 anos.
O Gui já está a dormir ao calor da lareira.
Boa noite, Sophiamar, que a vida lhe sorria...

gaivota disse...

venho deixar-te um beijinho grande e desejar-te um feliz domingo!

Anónimo disse...

É bom recordar...

jo ra tone disse...

Isabel,
Aqui estou para dar os parabéns, mais uma vez pelo teu muito interessante texto.
Vejo que tens uma memória jovem.
É muito bom recordar o passado, matar saudades, viver o presente nesse local magnífico, por ti descrito.
Um beijinho daqui.

jo ra tone disse...
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