quinta-feira, 9 de outubro de 2008

«A Ti Regresso, Mar...»


A ti regresso, mar, ao gosto forte
Do sal que o vento traz à minha boca,
À tua claridade, a esta sorte
Que me foi dada de esquecer a morte
Sabendo embora como a vida é pouca.

A ti regresso, mar, corpo deitado,
Ao teu poder de paz e tempestade,
Ao teu clamor de deus acorrentado,
De terra feminina rodeado,
Prisioneiro da própria liberdade.

A ti regresso, mar, como quem sabe
Dessa tua lição tirar proveito.
E antes que esta vida se me acabe,
De toda a água que na terra cabe
Em vontade tornada, armado o peito.

José Saramago

21 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Bonito o poema, mas eu preferia um mais alegre. Temos sido bombardeados ultimamente com tanta coisa triste quye precisamos arranjar algo mais alegre para equilibrar a balança da vida.
Um abraço e um real por um sorriso...

Beatriz disse...

Este poema do Saramago trouxe-me imensas saudades do mar, lugar para onde tenho pensado tanto em ir ultimamente.

Atualizando a leitura vi que nas duas últimas postagens falas com imensa dedicação e carinho sobre a partida (os amigos não partem, ficam marcados no nosso coração para sempre) do Fernando Peixoto, uma pessoa que marcou seu nome com honra e glória na história da cultura portuguesa.

As duas imagens que encimam a tua homenagem estão perfeitas: uma rosa branca no simbolismo da Paz que certamente reina onde o teu amigo agora está, e um navio em alto-mar, como a dizer daquele que partiu... a gente está sempre partindo e o único porto seguro é justamente aquele onde nos espera a paz.

Uma bela homenagem, doce amiga, com a marca da tua sensibilidade aliada à delicadeza do teu coração.

Te deixo hoje um ramalhete de violetas azuis colhido no sorriso de lindos anjos que estavam por aqui a brincar. Deixo também um beijo no coração, com meu carinho.

José Lopes disse...

No dia em que se conheceu o prémio Nobel da literatura é bom recordar que também já um português mereceu essa distinção.
Cumps

Jorge P. Guedes disse...

Quem sou eu para comentar palavras de um Prémio Nobel!
Mas o Saramago da poesia nunca teria ganho prémio algum. É o que eu acho, eu, um simples e obscuro português das Letras.

As minhas desculpas pelo desassombro do que afirmo e que a mim, e só a mim, cabe a responsabilidade e cobre de ridículo.

Um abraço, Isabel.

o escriba disse...

Isabel

Amiga, gosto deste poema do Saramago!
Fala do mar, mas também fala de um regresso pressupondo que houve uma partida.Fala de liberdade, enquanto prisioneiro de qualquer coisa.Fala de morte, tão só ela seja o findar de uma vida. É um poema de dicotomias.Duas faces do que se tem, do que se deseja, do que se lamenta.Gosto deste poema.

bjinhos
Esperança

amigona avó e a neta princesa disse...

Obrigada, obrigada, obrigada! Eu sei que a amizade não se agradece mas deixa que o faça pelas palavras que tens oferecido e pelos mimos que nos dás! Um beijo querida...hoje aindaestou um pouco zonza...só agora damos conta do quevivemos nestes últimos dias...

gaivota disse...

lindo o poema, vindo de saramago, com sabor a mar...
também regresso sempre ao mar com gosto a sal, a iodo, a maresia, a ondas, a conchinhas,
com gosto a vida!
tu sabes, isabel linda amiga...
bom fim de semana em paz!
beijinhossssssssssssss millllllllll

jo ra tone disse...

Isabel
O poema faz-me também regressar ao mar nestes dias quentes de Outono.
Amanhã, se não chover.
Se chover, faço como os lisboetas.
Beijinho
Bom fim de semana

Filoxera disse...

O mar é poderoso. Belo mesmo quando furioso. Apaixonante mesmo quando escuro.
Beijos.

Parapeito disse...

...Só porque gosto do mar...
:))

Anónimo disse...

Sempre a ti regresso...
Boa escolha. Kiss

Agulheta disse...

Olá amiga. Com um lindo poema ao mar,escrito pelo prémio nobel,embora um pouco triste gostei de ler.Amiga bfs beijinho

Elvira Carvalho disse...

Poema dum Funcionário Cansado

A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só

Escolhi este poema de António Ramos Rosa para lhe desejar um bom fim de semana.
Um abraço

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Sofia, um belíssimo poema... Parabéns!
Desejo-te um maravilhoso fim de semana, beijinhos de carinho,
Fernandinha

Graça Pires disse...

Bom poema de Saramago. É sempre bom regressar ao mar, por todos os motivos.
Um beijo para ti.

Ana disse...

Até Saramago foi tentado pelo mar!
Não conhecia o poema e gostei.
Um beijo, Isabel.

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá amiga, belo poema de Saramago...Espectacular...
Beijos

Manuel Veiga disse...

acabo de ler uma sua entrevista no "Expresso". imperdível...

beijo

jaime latino ferreira disse...

QUANDO

Quando morre um poeta

Morre com ele uma parte da caneta

Da tinta universal

Que pinta céu e vale

Aparo de uma lágrima de cristal

Que corre estreita

Estilhaçada e sem ter mal

Derramando no papel

Mata-borrão do cinzel

A escultura que se espreita

E se canta desigual

Morre com ele doce mel


( Na morte de um poeta )

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Outubro de 2008

CNS disse...

É belissimo este poema.

ASPÁSIA disse...

...esta sorte
Que me foi dada de esquecer a morte
Sabendo embora como a vida é pouca


GRANDE VERDADE! SÓ ESTA FRASE JÁ SERIA UM POEMA...
A FACETA POÉTICA, MENOS CONHECIDA, DO NOSSO NOBEL, REVELA.SE AQUI, BRILHANTE. TALVEZ ESCRITO, FOSSE O POEMA AQUANDO DA RECENTE CRISE DE ´SAÚDE QUE SARAMAGO TEVE, MAS DE QUE RECUPEROU QUASE TOTALMENTE.

E ESTA "GORDUCHITA" MOLHANDO OS PÉS QUEM SERÁ? EHEH...

BEIJOCA GORDITA!